A Casa Branca confirmou que o governo dos Estados Unidos comprou uma participação de 10% na fabricante de chips Intel, pelo valor de 8,9 bilhões de dólares (R$ 48,5 bilhões). Essa iniciativa visa reforçar a competitividade do país na indústria de semicondutores, considerada estratégica na disputa tecnológica global.
Governo dos EUA reforça sua presença na Intel e no setor de chips
Segundo o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, o acordo “fortalece a liderança dos EUA em semicondutores, estimulando o crescimento econômico e garantindo a vantagem tecnológica americana”. Embora seja incomum o governo adquirir participação em uma gigante como a Intel, essa medida reflete a tendência de intervenção direta de Washington durante o segundo mandato de Trump.
No mesmo mês, fabricantes como Nvidia e AMD concordaram em pagar 15% de suas receitas na China ao governo dos EUA, enquanto a venda da siderúrgica US Steel para a japonesa Nippon Steel garantiu ao governo a golden share — direito de veto sobre decisões da empresa.
Intervenção do governo: uma nova estratégia estatal
Especialistas indicam que a gestão Trump está adotando uma atuação mais ampla e direcionada no mercado, forçando limites entre intervenção e regulação. “Eles estão fechando acordos pontuais com empresas estratégicas, diferente das políticas de estímulo generalizado de governos anteriores”, explica Geoffrey Gertz, do Centro para uma Nova Segurança Americana, sediado em Washington.
Embora polêmicas, essas ações têm forte apoio em setores considerados essenciais na rivalidade com a China, como semicondutores e terras raras. “A Intel é mais do que uma empresa; representa uma peça fundamental na defesa e na inovação tecnológica dos EUA”, afirma Sujai Shivakumar, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
Razões por trás do investimento na Intel
Nos últimos anos, a Intel enfrentou dificuldades para competir com a taiuanesa TSMC na fabricação de chips avançados e perdeu espaço no mercado de inteligência artificial, dominado pela Nvidia. Após o anúncio da participação do governo, as ações da empresa subiram mais de 6%, refletindo o otimismo do mercado.
O diretor do programa de inovação americana, Shivakumar, avalia que a Intel é, atualmente, a única gigante sediada nos EUA com potencial de recuperar o domínio na produção de chips avançados. “A intervenção é motivada por motivos estratégicos e de segurança nacional”, destaca.
Desafios e limites da intervenção estatal
Apesar do potencial, o acordo levanta preocupações quanto à possibilidade de favorecimento de algumas empresas, o que poderia prejudicar a concorrência e a inovação a longo prazo. “Há risco de capitalismo de compadrio”, alerta Gertz. Já Shivakumar defende a necessidade de equilibrar interesses estratégicos e forças de mercado, com uma política industrial inteligente.
Com o apoio de programas como o CHIPS Act, aprovado em 2022, os EUA buscam ampliar sua capacidade de fabricação de chips de ponta. Contudo, a integração de novos investimentos do governo, como o na Intel, sinaliza uma mudança de paradigma na relação entre Estado e setor privado.
Segundo fontes do setor, o recursos do governo americano para adquirir ações virão parcialmente de subsídios do CHIPS Act e de outras fontes, configurando uma nova fase na política industrial dos EUA, que busca recuperar o protagonismo na manufatura de tecnologia essencial.
Para acompanhar essa estratégia, o governo anunciou que publicará nos próximos dias uma medida provisória detalhando os próximos passos, com previsão de início das operações ainda em 2026.
Fonte: G1 – Intervenção ou estratégia? Intel recebe aporte bilionário do governo Trump