Brasil, 25 de agosto de 2025
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Bnei Anussim: o retorno de brasileiros ao judaísmo

Movimento de retorno ao judaísmo ganha força entre bnei anussim no Brasil, especialmente no Nordeste, refletindo rica ancestralidade.

Um fenômeno religioso está se concretizando no Brasil, especialmente entre comunidades no Nordeste: o retorno de brasileiros com ancestralidade judaica ao judaísmo. Estima-se que cerca de 30 mil pessoas, conhecidas como bnei anussim, tenham se convertido ao longo dos últimos anos. Essa expressão, que em hebraico significa “filhos dos forçados”, refere-se a aqueles cujos antepassados foram obrigados a se converter ao cristianismo durante a Inquisição na Península Ibérica, no século 15. O movimento, que tem sua base nas periferias e cidades pequenas do Nordeste, está não só ganhando visibilidade entre os descendentes de judeus, mas também influenciando a cultura e a religião no Brasil.

O ressurgimento das tradições judaicas

Em Messejana, um bairro pobre de Fortaleza, a sinagoga Beitel, fundada em 2014, é um exemplo emblemático desse movimento. Antes uma igreja evangélica, o espaço passou a incorporar cada vez mais elementos judaicos, refletindo a transformação espiritual de seus membros, como Flávio Santos, que transita entre suas raízes evangélicas e a descoberta de suas origens judaicas. Ele e outros da comunidade afirmam ter reencontrado suas conexões ancestrais por meio de pesquisas familiares e testes de DNA. Flávio, por exemplo, associou práticas de sua avó nascidas no interior de Alagoas, como a recusa em apontar para estrelas com os dedos, a tradições judaicas, ligando a memória da Inquisição com sua nova identidade.

Desafios e críticas

Infelizmente, o movimento é recebido com ceticismo por algumas comunidades judaicas estabelecidas no Brasil. As tensões emergem da percepção de que muitos bnei anussim são vistos como “novatos” na fé judaica, levando a uma marginalização que pode se manifestar em eventos como a recusa de acesso a sinagogas tradicionais. Flávio e outros líderes da comunidade esperam que, com o tempo, a aceitação mútua se torne mais comum, mas o caminho ainda é longo.

A conexão com Israel

O impacto do movimento dos bnei anussim vai além das fronteiras brasileiras. Muitos que se converteram ao judaísmo buscam a aliá, o processo legal para obter a cidadania israelense. Há relatos de ex-membros da comunidade que servem no Exército de Israel, demonstrando a importância da conexão com o Estado judeu, especialmente em tempos de conflito, como a atual situação em Gaza.

A ascensão da comunidade bnei anussim

Com a crescente popularidade de testes genéticos e cursos online que exploram a rica história do judaísmo no Brasil, o número de pessoas se identificando como bnei anussim está aumentando. Historicamente, o Nordeste abrigou uma mistura cultural rica de judeus cristãos-novos, os “marranos”, que se converteram à força, mas mantiveram práticas judaicas em segredo.

O escritor Jacques Ribemboim, especialista na história do judaísmo no Brasil, acredita que o número de nordestinos com ascendência judaica pode ser imenso, e essa redescoberta do legado judaico pode não apenas enriquecer a identidade dos bnei anussim, mas também contribuir significativamente para o entendimento das complexidades da história judaica. Ele afirma que existem entre 4 a 30 milhões de brasileiros com potencial para se identificarem com o judaísmo, uma possibilidade extraordinária para o futuro religioso do país.

Enfrentando a resistência

Apesar da história rica, o retorno ao judaísmo não é uma jornada fácil. Os bnei anussim frequentemente encontram resistência de instituições judaicas tradicionais. De acordo com o rabino Shamai Ende do Chabad, conversões são vistas como impróprias, já que muitos buscam a religião com intenções financeiras. Entretanto, representantes de comunidades não ortodoxas apontam que a aceitação é necessária e benéfica.

Reforma religiosa e aceitação social

O caminho para a aceitação dentro do judaísmo pode ser complicado e cheio de nuances. No entanto, líderes de comunidades bnei anussim, como Aldrey Ribeiro, defensor da sinagoga Branca Dias na Paraíba, argumentam que o retorno ao judaísmo representa uma reparação histórica e uma forma de reconectar com um passado muitas vezes esquecido. Para Aldrey, construir uma identidade judaica emerge como uma forma de resistência e afirmação cultural, apontando a necessidade urgente de diálogo e união entre as diversas vertentes do judaísmo.

O movimento dos bnei anussim no Brasil é um testemunho do poder da herança e da identidade. À medida que se aprofunda essa ligação com suas raízes judaicas, muitos enfrentam os desafios da rejeição, mas encontram força nas comunidades em crescimento que estão fazendo ecoar suas vozes e vivências em um mundo que, cada vez mais, se mostra diversificado e interconectado.

Em resumo, o retorno de brasileiros ao judaísmo representa uma rica tapeçaria de história, cultura e identidade que não só reflete a busca por pertencimento, mas que também reimagina o futuro da religião no Brasil e suas conexões com Israel.

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