Na Grande Fortaleza, uma nova e preocupante prática tem chamado a atenção das autoridades e usuários de aplicativos de transporte: a comercialização de contas falsas para motoristas de plataformas como Uber e 99. Anúncios que prometem a criação de contas para aqueles que estão banidos ou que não possuem a documentação adequada são facilmente encontrados nas redes sociais, com preços que variam entre R$ 150 a R$ 500.
Perfis falsos: uma fraude em ascensão
Esse tipo de fraude não é apenas uma questão de legalidade, mas também de segurança. Motoristas que utilizam contas falsas denunciam práticas que elevam as tarifas dinâmicas, prejudicando a experiência dos passageiros. De acordo com relatos, motoristas estão utilizando essas contas ilegais em massa, não apenas para voltar a trabalhar após serem banidos, mas também para manipular preços e oferecer corridas inseguras.
Os anunciantes, que promovem esses serviços nas mídias sociais, apresentam opções para diversos casos, como motoristas com veículos antigos, documentação pessoal atrasada, ou até mesmo aqueles que não possuem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). O mercado negro se aproveita da vulnerabilidade de alguns motoristas em busca de uma renda, oferecendo soluções rápidas, mas ilegais.
Preços e promessas dos anunciantes
Entre os diversos vendedores, um deles, com número de contato da região do Amazonas, comercializa contas da 99 por R$ 400. Ele explica que o comprador pode pagar apenas uma entrada de R$ 50 e quitar o restante após a ativação da conta. “A Uber caiu faz tempo, a conta não dura e não vendo”, informou o vendedor, alertando sobre os riscos envolvidos.
Outro anunciante, do Rio de Janeiro, destaca que as contas da Uber são oferecidas por R$ 450 e prometem liberação em até duas horas. Caso o comprador não possa realizar o pagamento, o vendedor se reserva o direito de bloquear a conta e impor multas ao veículo associado.
Consequências legais e riscos para a segurança
O comércio de contas falsas não é apenas uma violação dos termos de serviço das plataformas, mas também é punido pela lei. A prática pode resultar em crime de falsidade ideológica, com penas que variam de 1 a 5 anos de prisão, dependendo da gravidade da infração. Além disso, motoristas que utilizam essas contas falsificadas podem acabar colocando em risco a segurança e a confiança dos passageiros.
Um usuário de aplicativo que viveu essa situação inusitada relata que ao solicitar uma corrida pelo 99, percebeu que o motorista não correspondia à foto exibida no app. O condutor, ao ser interpelado, admitiu que conduzida por conta falsa para burlar as regras, alertando sobre a disseminação essa prática ilegal entre motoristas.
Desafios enfrentados por motoristas regulares
Enquanto esse comércio ilegal prospera, motoristas que seguem as regras enfrentam enorme dificuldade para se sustentar. De acordo com Robinho Patrício, presidente do Sindicato dos Motoristas de Aplicativos de Fortaleza, o aumento nos custos de manutenção e combustível tem comprometido a capacidade de geração de renda para muitos profissionais. “Para faturar valores conquistados com 8 horas de trabalho há dez anos, hoje é preciso dirigir por aproximadamente 16 horas”, lamenta.
A situação é crítica, e a organização apresenta um pedido para a regulamentação da atividade, que ainda aguarda votação no Congresso Nacional, visando garantir melhores condições para os trabalhadores.
O que dizem as plataformas e a segurança dos usuários
Sobre a questão das contas falsas, as empresas de aplicativo reforçam que adotam uma política rigorosa contra fraudes e que todas as contas são verificadas regularmente. A 99, por exemplo, afirma que está conduzindo investigações internas para erradicar contas fraudulentas. “Adotamos uma política de tolerância zero para qualquer forma de fraude”, explica a nota oficial da companhia.
Os usuários são orientados a verificar a identidade dos motoristas e a relatar irregularidades, disponibilizando um canal de denúncias ativo. A Uber, por sua vez, também reitera que não tolera práticas fraudulentas, mas não conseguiu verificar os casos específicos mencionados na reportagem, levantando a necessidade de uma maior colaboração entre os usuários e as plataformas.
A proliferacão de contas falsas nos aplicativos de transporte torna-se um sinal de alerta para usuários e motoristas, que precisam estar cientes da validade e legalidade dos serviços que utilizam. O combate a essa prática não é apenas responsabilidade das plataformas, mas também da comunidade de usuários e motoristas que devem se unir para promover um ambiente mais seguro e confiável.