Leonor Miranda, uma mulher de 54 anos, carrega em sua história capítulos de superação e dor. Após se ver obrigada a vender sua casa na Vila Aliança, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, para quitar as dívidas do filho caçula envolvido com drogas, Leonor encontrou-se vivendo nas ruas. Sua trajetória, marcada pela perda do filho mais velho, violência doméstica e a luta contra a dependência química do filho mais novo, agora ganha um novo rumo.
Uma vida marcada por tragédias
O luto da perda de seu primogênito, que foi assassinado aos 17 anos, deixou cicatrizes profundas na vida de Leonor. Após essa tragédia, ela prometeu a si mesma nunca mais se envolver com drogas, mas a vida lhe apresentou novos desafios. Sem o apoio do marido, que era agressivo, ela se tornou mãe solteira e enfrentou a dura realidade de ver seu filho caçula se afundar no vício e nas dívidas crescentes.
“Quando você não tem ninguém, você se perde. As pessoas te olham como se você fosse um bicho”, relembra Leonor, ao descrever a experiência de ser quem viveu nas ruas e enfrentar o estigma da sociedade. Ela chegou a discutir quando via pessoas humilhando alguém em sua situação, lembrando-se do próprio sofrimento.
A acolhida que mudou tudo
No início de 2023, Leonor foi acolhida pelo programa Seguir em Frente, da Prefeitura do Rio de Janeiro, que a recebeu na Praça da Cruz Vermelha. Durante esse período, ela passou a frequentar o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Dona Ivone Lara, onde iniciou um tratamento psicológico essencial na sua jornada de recuperação. Sua glicemia foi monitorada, e ela recebeu cuidados para a diabetes, que estavam descontrolados ao ser admitida, com níveis alarmantes de 596 mg/dL.
Retomando a vida e os sonhos
Desde o acolhimento, a vida de Leonor começou a mudar para melhor. Em seu papel como bolsista em um programa de limpeza, ela demonstrou empenho e dedicação, o que resultou em um convite para trabalhar como auxiliar de limpeza na Clínica da Família Mestre Molequinho, em Engenheiro Leal. “Eu comprei tudo novinho pra minha casa, com o meu dinheiro. A dor tá passando. Hoje eu rio, me divirto. A vida mudou e vai mudar mais ainda”, comemora.
A busca pela educação também se tornou uma prioridade na nova fase de sua vida. Leonor se preparou para ingressar no EJA (Educação de Jovens e Adultos), revelando um desejo intenso de aprendizado e autodescoberta. “Precisava de uma psicóloga e consegui no Caps. Ela abriu minha mente”, compartilha Leonor, destacando a importância do suporte psicológico na sua reabilitação.
Uma história de esperança
A trajetória de Leonor Miranda é uma reflexão poderosa sobre resiliência e esperança. Apesar dos traumas e desafios, sua determinação em resgatar sua vida e buscar um futuro promissor é inspiradora. Sua história é mais do que um relato de dificuldades; é um testemunho de que é possível recomeçar, mesmo quando tudo parece perdido.
Ainda que momentos de tristeza e solidão permeiem sua narrativa, Leonor se recusa a ser uma vítima de suas circunstâncias. Sua coragem em enfrentar a vida ressalta a importância de programas de acolhimento e suporte na recuperação de indivíduos em situação de vulnerabilidade. Ao olharmos para sua vida, somos lembrados de que cada dia pode ser uma nova oportunidade para mudar e reescrever nossa história.
Com o olhar no futuro, Leonor Miranda não apenas reconstrói sua vida, mas se torna um símbolo de esperança para tantos que enfrentam desafios similares. Seu testemunho é um lembrete de que, mesmo nas situações mais sombrias, sempre há espaço para o renascimento e a prosperidade.