O Encontro promovido pela Comunhão e Libertação em Rimini, na Itália, trouxe à tona histórias emocionantes de dor e esperança, destacando a luta pela paz em meio ao conflito israelense-palestino. A quadragésima edição do evento começou com relatos impactantes de Layla al-Sheik, uma mãe palestina que perdeu seu filho Qusay durante a segunda Intifada, e de Elana Kaminka, mãe de Yannai, soldado israelense morto em um ataque em outubro de 2023. As suas histórias refletem a necessidade urgente de diálogo e reconciliação em uma região marcada por décadas de violência.
Duas histórias de reconciliação e diálogo
A narrativa de Layla al-Sheik ecoou profundamente entre os presentes no auditório D3 do Meeting de Rimini. Layla compartilhou como seu filho, Qusay, morreu em seus braços enquanto ela tentava protegê-lo do conflito em 2002. Hoje, a vida para os palestinos, especialmente após os acontecimentos de outubro de 2023, tornou-se ainda mais difícil. “Todos os palestinos que trabalhavam em Israel perderam seus empregos. Não temos abrigos contra as bombas nem sabemos o que está acontecendo nas localidades vizinhas”, relatou Layla, evidenciando a crescente dificuldade que sua comunidade enfrenta. Apesar dessas adversidades, ela se mantém empenhada na mensagem de que israelenses e palestinos podem conviver em paz, um ideal que representa sua participação no Parents Circle-Families Forum.
Ao lado de Layla, Elana Kaminka também compartilhou sua história de perda e transformação. A morte de seu filho Yannai, que salvou 80 recrutas e civis durante um ataque, deixou um vazio imenso. “Depois de perdê-lo, pensei que tinha perdido toda a minha vida. Mas percebi que a única coisa que podia controlar era minha reação”, disse Elana, ao explicar como encontrou um novo propósito ao se juntar ao mesmo grupo de reconciliação que Layla. Juntas, elas simbolizam a luta por um futuro melhor, uma ponte entre dois mundos que frequentemente se veem em oposição.
O sentido da fronteira na Terra Santa
Layla e Elana vivem a apenas dois quilômetros de distância, mas a fronteira entre suas vidas é palpável e cheia de barreiras. A dificuldade de atravessar para o outro lado reflete não apenas limitações físicas, mas também uma mentalidade de divisão que permeia a sociedade. Elana enfatiza: “Precisamos ter bons vizinhos para viver bem. A solução não é eliminar o vizinho, mas encontrar formas de coexistência.” Sua esperança é um testemunho vital de que, mesmo em um cenário marcado pelo extremismo, existe uma vontade de dialogar e buscar a paz.
Scholz: “Levemos a conciliação aos desertos da guerra”
No discurso de abertura do evento, Bernard Scholz, presidente da Fundação Meeting, destacou a capacidade humana de criar mudanças mesmo em tempos desoladores. “Nos desertos da solidão existencial e das guerras, podemos e devemos cultivar vida e amizade”, afirmou, encorajando a audiência a se unir em busca de reconciliação. Sua mensagem ressoou fortemente com os testemunhos das mães, que, apesar de suas feridas, continuam a acreditar no potencial de transformação que a união pode trazer.
O testemunho de irmã Aziza
A ênfase na construção de pontes e no diálogo foi reforçada por irmã Aziza, uma religiosa comboniana que trabalhava em Israel e nos Territórios Palestinos. Ela trouxe à tona as preocupações de comunidades vulneráveis, como os beduínos do deserto de Judá, que enfrentam medos profundos sobre o futuro de seus filhos. “A separação e o medo aumentam com a guerra, mas ver o rosto do outro é fundamental para encontrar esperança”, disse ela, ressaltando a importância de superar preconceitos para construir um futuro mais pacífico.
Feridas indeléveis, esperanças infinitas
A dor da perda de um filho é uma ferida que nunca cicatriza, e essas mães exemplificam como o amor e a tragédia podem coexistir. A busca pela paz não é fácil, mas é uma jornada repleta de significado e esperança. “É preciso humildade e coragem para escolher o caminho do diálogo em vez da vingança”, afirmaram, refletindo sobre a mensagem do presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, que incentivou a busca por conexões e comprometimento entre as comunidades. O Encontro em Rimini, portanto, se torna um espaço de resiliência, onde as vozes de mães pelo mundo ecoam a necessidade de um futuro pacífico, desafiando a narrativa de desespero que muitas vezes domina os noticiários.
Em meio a conflitos e divisões, as histórias de Layla e Elana mostram que, mesmo nas condições mais adversas, a empatia e o amor podem florescer. A esperança por um futuro de paz é o que traz luz a esses desertos criados pela guerra.