O Brasil desponta como um dos maiores geradores de lixo eletrônico do mundo, com uma produção anual de impressionantes 2,4 milhões de toneladas, segundo o Monitor Global de Resíduos Eletrônicos 2024, divulgado pela Organização das Nações Unidas. Essa posição coloca o país como o 5º maior produtor global de e-lixo e o primeiro entre as nações da América Latina, revelando um cenário alarmante para a gestão de resíduos eletrônicos no território nacional.
O que caracteriza o lixo eletrônico
Os resíduos eletrônicos, comumente chamados de “e-lixos” ou “eletrolixos”, abrangem uma vasta gama de objetos que estão presentes na rotina dos brasileiros. Desde pequenos itens, como DVDs e CDs, até grandes eletrodomésticos, como geladeiras e TVs, passando por computadores e celulares, a lista é extensa. Um fato essencial que ajuda a identificar um eletrolixo é simples: se o item utiliza eletricidade, pilhas ou baterias, ele é considerado lixo eletrônico.
Com a crescente produção desses resíduos, a preocupação com a contaminação do solo e da água por metais pesados e substâncias tóxicas é latente. Portanto, o descarte adequado é fundamental. O recomendado é que os e-lixos sejam encaminhados a pontos de coleta ou a serviços de logística reversa, nos moldes da economia circular.
Desafio da conscientização e descarte correto
Entretanto, um dos principais obstáculos enfrentados é a falta de informação. Dados de uma pesquisa realizada pelo Centro de Tecnologia Mineral revelam que 85,6% dos brasileiros não sabem como descartar corretamente os aparelhos eletrônicos que não estão mais em uso. Grande parte dos itens acumulados são pilhas e baterias, seguidos por aparelhos de telefonia e computadores.
Essa desconexão entre a produção de lixo eletrônico e o conhecimento sobre seu descarte adequado impede avanços significativos na reciclagem. Profissionais do setor acreditam que há uma grande oportunidade de desenvolvimento no campo da reciclagem de e-lixos, e startups, como a meuResíduo, estão liderando essa transformação.
Inovação na gestão de resíduos eletrônicos
Ismael Christmann, Chief Marketing Officer da meuResíduo, explica que a inovação da startup reside na integração tecnológica com os sistemas de órgãos ambientais. “A plataforma foi desenvolvida para usar a tabela do Ibama, que abrange qualquer resíduo. Para resíduos eletrônicos, temos vários clientes utilizando nossa ferramenta para realizar coletas. Além disso, possibilitamos o tratamento, onde é possível inserir um tipo de resíduo eletrônico e indicar o percentual do material que ele gera”, detalha Christmann.
Por exemplo, na plataforma é possível cadastrar a entrada de um televisor, e o tratamento apresentará a quantidade de plásticos, vidros e placas presentes, conforme os dados fornecidos. Essa abordagem não só facilita o descarte responsável, mas também colabora para a transparência e rastreabilidade do processo de reciclagem.
Perspectivas e desafios futuros
Christmann também aponta que o potencial de expansão do setor de coleta e reciclagem de lixo eletrônico depende da mudança de mentalidade dos envolvidos na gestão. Atualmente, os indicadores de desvio de aterro são insatisfatórios. “As empresas que investem em uma plataforma para entender o resíduo e o valor envolvido nesse processo são muito escassas”, comenta.
Uma das barreiras é que o mercado financeiro ainda não reconhece plenamente a importância de empresas sustentáveis. Além disso, a falta de fiscalização efetiva dificulta a aplicação das legislações ambientais existentes. Portanto, a adoção de um sistema que promova transparência, governança e rastreabilidade é um passo fundamental, mas que ainda enfrenta desafios significativos para se consolidar.
A consciência ambiental e a disposição para adotar tecnologias que facilitem o descarte correto de resíduos eletrônicos são indispensáveis para que o Brasil mude sua atual posição como um dos maiores produtores de lixo eletrônico do mundo. Investir em educação e inovação é o caminho para um futuro mais sustentável.