Com a disseminação da inteligência artificial (IA) generativa, a forma de procurar e receber informações na internet está mudando rapidamente. Desde o ano passado, o uso de resumos e respostas geradas por IA, como as do Google, tem impactado o comportamento dos internautas e a lógica dos links tradicionais, levando a um novo paradigma na navegação digital.
A mudança no comportamento dos usuários e o futuro da busca
Pesquisas indicam que os usuários estão mais satisfeitos com as visões gerais que as IAs do Google oferecem no topo dos resultados, deixando de clicar em links abaixo. Muitos preferem obter respostas rápidas, mesmo que essa prática reduza o tráfego para sites e veículos de comunicação, alterando o modelo econômico baseado em cliques e publicidade. Segundo especialistas, esse é um novo cenário: a navegação está cada vez mais guiada por conversas com sistemas inteligentes.
Impacto nos mecanismos de busca e nas plataformas
O Google lançou, há um ano, o AI Mode, uma interface de busca em formato de conversa, inicialmente disponível nos EUA, que oferece respostas prontas e dispensa a necessidade de clicar nos links tradicionais. A empresa garante que o volume de cliques orgânicos permanece o mesmo, mas estudos e relatos de criadores de conteúdo mostram o contrário. Dados da plataforma Similarweb revelam uma queda significativa no tráfego de buscas e acessos a sites jornalísticos no Brasil desde o início do uso do recurso.
Além do Google, empresas como a OpenAI, criadora do ChatGPT, investem em navegadores próprios com IA embutida, buscando manter o controle da jornada do usuário e diminuir a dependência dos mecanismos tradicionais. A estratégia inclui também o desenvolvimento de ferramentas que bloqueiam rastreadores de IA, com o objetivo de proteger conteúdos originais e remunerar corretamente os produtores de informação.
Desafios e riscos para o mercado de notícias e o jornalismo
A utilização de conteúdos jornalísticos para treinar sistemas de IA sem autorização levanta uma série de questões legais e éticas. Já há ações na Justiça no Brasil e na Europa contra o uso indevido de conteúdos, além de propostas de plataformas de bloqueio e remuneração pelo uso de dados. O impacto dessas mudanças é profundo: a perda de tráfego para veículos de mídia, a diminuição do controle sobre a circulação de informações e o risco de reescrever a história de forma tendenciosa, como relata o especialista Marcos Barreto, da USP.
Especialistas apontam que esse novo cenário de interação proativa com o computador, com interfaces cada vez mais conversacionais, pode substituir comandos tradicionais por ações realizadas por voz e entendimento de sentimento e tom de voz. Porém, há preocupações com a confiabilidade das respostas das IAs, que podem gerar informações incorretas ou enviesadas, como o episódio recente de uma influenciadora espanhola impedida de embarcar por uma informação incorreta do ChatGPT.
Desafios éticos e regulatórios na era da IA
O grande desafio está em equilibrar a inovação tecnológica com a proteção dos direitos de autores e veículos de mídia. Ainda que as plataformas de IA necessitem de conteúdos de qualidade, atualmente elas não oferecem remuneração adequada aos criadores, o que pode ameaçar a sustentabilidade do jornalismo e da produção de conhecimento verificável. Como alternativa, surgem propostas de cobrança pelo uso de conteúdo protegido e ações judiciais contra o uso não autorizado de reportagens.
O impacto na publicidade também é relevante: a tendência de reduzir cliques e visitas às fontes de notícia diminui a eficácia de estratégias tradicionais de marketing digital, como o CTR (taxa de cliques). Estudos indicam uma queda de até 34,5% nesse indicador quando o resumo de IA é exibido no topo dos resultados, dificultando a conversão de interesse em ações concretas dos consumidores.
Perspectivas para o futuro da navegação na internet
Especialistas como Marcos Barreto dizem que a tecnologia caminhará para interfaces cada vez mais conversacionais, eliminando a necessidade de usar menus ou clicar em links, com interações em tom de voz e compreensão de emoções. Ainda assim, esses avanços trazem o risco de uma navegação menos personalizada e de uma diminuição na cadeia de valor que sustenta o jornalismo tradicional, além de maior vulnerabilidade a informações imprecisas ou manipuladas.
A discussão sobre regulamentação, remuneração e proteção de conteúdos é fundamental para assegurar uma transição equilibrada. Criação de ferramentas de controle, como o sistema “Pay Per Crawl” da Cloudflare, pode oferecer alternativas para que veículos de mídia tenham maior controle sobre o uso das suas informações na era da IA.
Para saber mais sobre as transformações na navegação na internet e as suas consequências, acesse a reportagem completa no GLOBO.