O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, deixou aberta a possibilidade de um corte de juros na próxima reunião do banco central dos Estados Unidos, em setembro, gerando forte otimismo nos mercados internacionais. No discurso anual no simpósio de Jackson Hole, Powell afirmou que a atual economia americana, com política monetária restritiva e riscos de estagflação, pode justificar um ajuste na política de juros.
Sinalização de corte de juros impulsiona mercados e afeta o dólar
Powell destacou que, apesar do cenário de inflação elevada, com taxa de 2,6% no acumulado em 12 meses, o Fed precisa monitorar cuidadosamente a relação entre inflação e desemprego. Ele reforçou que a possibilidade de queda de juros, prevista para setembro, já é precificada pelos mercados financeiros, levando a uma valorização das ações na Bolsa de Nova York e uma forte desvalorização do dólar, que recuou 0,95% frente às principais moedas.
A influência dos riscos de desemprego
Segundo analysts ouvidos, o maior desafio do Fed é evitar uma estagflação — situação de alta inflação associada ao crescimento econômico fraco e alto desemprego. Powell alertou que a desaceleração do mercado de trabalho, que fechou junho com uma taxa de 4,2% de desemprego, indica que riscos de aumento de demissões estão crescendo. “Essa situação incomum sugere que os riscos de queda no emprego estão aumentando”, afirmou Powell, destacando que o cenário pode se deteriorar rapidamente.
Impactos e implicações dos possíveis cortes de juros
Com o mercado de trabalho em desacordo com a trajetória desejada pelo Fed, a instituição enfrenta um dilema: avançar com cortes de juros ou manter a política de restrição para segurar a inflação. Analistas, como Ellen Zentner, do Morgan Stanley, avaliam que, atualmente, o mercado valoriza a possibilidade de redução de juros devido à fragilidade do mercado de trabalho.
Além disso, a expectativa de redução de juros nos EUA provoca a queda do dólar no Brasil e em outros países, além de incentivar fluxos de investimentos em ativos de risco. “O diferencial de juros elevado, e com potencial de se ampliar, favorece o real”, explica Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad.
Cenário econômico global e desafios do Fed
Embora Powell tenha alertado para os riscos de inflação persistente, ele também destacou que as pressões sobre preços de consumo nos EUA, motivadas pelas tarifas e tarifas adicionais, ainda não geraram uma inflação duradoura. Entretanto, há alertas de que essas pressões podem evoluir e se transformar em uma dinâmica inflacionária mais prolongada, se não forem bem administradas.
Após o discurso, os mercados reagiram com entusiasmo nos Estados Unidos, elevando o índice Dow Jones em 1,89%, atingindo um recorde de fechamento no ano, o S&P 500 subiu 1,52%, enquanto o Nasdaq avançou 1,88%. No Brasil, o índice Bovespa teve alta de 2,57%, sua maior desde 9 de abril.
Perspectivas futuras e riscos a serem considerados
Apesar do otimismo, dúvidas permanecem quanto ao timing e amplitude da redução de juros, especialmente após momentos de alerta vindo de alguns diretores do Fed, que indicaram cautela diante da inflação recente, em parte impulsionada pelo aumento das tarifas. Além disso, o cenário externo de guerras comerciais e instabilidades pode complicar ainda mais a condução da política monetária nos EUA.
Para o ex-diretor do Banco Central brasileiro, Alexandre Schwartsman, Powell enfrenta um “dilema” entre manter o emprego e controlar a inflação: “Hoje, o Fed não está mais na posição de esperar que o impacto das tarifas seja temporário. A situação evoluiu, e eles tiveram que fazer um ‘salto de fé'”.
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