As empresas americanas estão sob forte influência do governo de Donald Trump, que passou a exercer um papel mais direto na gestão e na estratégia de companhias estratégicas, incluindo aquisições e intervenções. Após adquirir participações na Nvidia, AMD e na mineradora MP Materials, o governo dos EUA agora controla uma fatia de 10% na Intel, em um movimento avaliado por especialistas como uma mudança significativa no sistema de livre mercado do país.
Autoritarismo estatal no mercado americano
Desde o mês passado, o governo Trump anunciou que assumiria participação na fabricante de semicondutores Intel, no valor de cerca de US$ 8,9 bilhões, formando uma nova frente de intervenção estatal que lembra práticas comuns em países como China, Rússia e na Europa. Segundo fontes próximas às discussões, a iniciativa visa proteger interesses estratégicos e a segurança nacional, especialmente em setores críticos como tecnologia e mineração de terras raras.
Medidas sem precedentes
Especialistas afirmam que a atual estratégia de Trump difere de intervenções anteriores, como na crise de 2008, por não envolver empresas à beira do colapso. “O que vemos é uma intervenção em uma fase diferente, quase como um capitalismo administrado, com empresas sendo pressionadas a ceder participações e cumprir condições específicas”, explica Kai Liekefett, copresidente na Sidney Austin.
Reações do mercado e possíveis implicações
O movimento tem causado preocupação entre executivos e advogados de Wall Street, que investigam maneiras de defender as empresas de possíveis pressões governamentais. A reação inicial foi positiva na Intel, cujas ações dispararam mais de 5% após o anúncio, enquanto empresas como AMD sofrem quedas diante da possibilidade de favoritismo governamental.
Ao afirmar que a participação na Intel foi uma estratégia de garantir ganhos aos contribuintes e fortalecer a segurança nacional, o secretário de Comércio, Howard Lutnick, reforçou que a intervenção visa proteger interesses essenciais do país. “Estamos falando de setores de alta criticidade para segurança nacional”, reforçou Lutnick.
Perspectivas futuras e desafios
Apesar de o pacote de estímulo a exportadores ter apoio parcial, analistas alertam que a maior presença do Estado pode transformar o ambiente empresarial, dificultando a independência das empresas e gerando insegurança para investidores. Além disso, o próprio arcabouço legal dos EUA, como o CHIPS Act, possui brechas que facilitariam novas intervenções.
O impacto político e econômico ainda está em avaliação, com promessas de que o governo continuará analisando outras empresas que possam ser alvo de regulações ou participações acionárias. “Essa mudança pode comprometer a neutralidade do mercado, trazendo um cenário mais parecido com modelos de economia controlada”, observa o professor David Sicilia, da Universidade de Maryland.
Implicações para o longo prazo
Especialistas também questionam se esse perfil de intervenção mais agressivo promoverá inovação ou, ao contrário, dificultará o investimento estrangeiro e doméstico em setores estratégicos. Como aponta o historiador Jonathan Levy, a participação do Estado em setores fundamentais foi uma prática reservada a momentos de guerra ou crise de segurança, e sua aplicação de forma contínua pode alterar profundamente o funcionamento do livre mercado nos EUA.
Enquanto o governo Trump tenta consolidar seu controle sobre setores considerados essenciais, empresas e acionistas refletem sobre o futuro do ambiente de negócios americano e os riscos de uma política que mistura interesses públicos e privados de formas inéditas.
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