A recente operação da Polícia Federal (PF) trouxe à tona novos detalhes sobre as investigações em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro e seu parceiro de longa data, Mauro Cid. Durante diligências realizadas no dia 17 de julho, a PF encontrou no porta-luvas de um dos veículos de Bolsonaro manuscritos que fazem referência direta à delação premiada de Cid. O material, que consiste em folhas brancas com anotações feitas à mão, não foi incluído no inquérito em andamento, que investiga a coação de testemunhas, levando em consideração que não se enquadra no escopo da investigação.
O contexto das anotações de Bolsonaro
As anotações foram apuradas pela equipe do Metrópoles, que teve acesso a informações diretamente de investigadores. Esses registros teriam sido feitos pelo ex-presidente durante o interrogatório do seu ex-ajudante, que ocorreu em junho, no Supremo Tribunal Federal (STF). Uma fonte próxima ao caso mencionou que o conteúdo das anotações representa uma espécie de “linha do tempo”, construindo um panorama a partir da colaboração de Cid com as autoridades.
Entre os rabiscos encontrados, há passagens que sugerem possíveis estratégias de defesa de Bolsonaro. Uma das anotações, por exemplo, afirma: “não existia grupos, sim indivíduos (…) considerando – 2 ou 3 reuniões. Defesa + sítio + prisão – várias autoridades. Previa: comissão eleitoral nova eleição”. Isso indica que o ex-presidente estava refletindo sobre as interações e estratégias que poderiam ser utilizadas em sua defesa legal frente às acusações.
Trechos polêmicos e revelações
Outros trechos das anotações geraram ainda mais repercussão. Em um momento, Bolsonaro registra: “recebi o $ do Braga Netto e repassei p/ o major de Oliveira – pelo volume, menos de 100 mil. Pressão p/ PR assinar ‘um decreto’ – defesa ou sítio, mas nada vai acontecer”. Essa menção sugere o que parece ser uma tentativa de amainar o impacto de algumas ações do governo, criando um cenário de indefinição sobre suas consequências.
Mais adiante, as anotações contêm uma série de anedóticos e observações que revelam o estado mental do ex-presidente durante os eventos que precederam sua saída do cargo. Ele menciona: “Nem cogitação houve. Decreto de golpe??? Golpe não é legal // constituição, golpe é conspiração” (sic), demonstrando sua postura em defesa de suas ações e decisões enquanto estava no cargo. Além disso, há a data “29/nov” riscada, seguidas pela frase: “Plano de fuga – do GSI caso a Presidência fosse sitiada”. Este último detalhe acendeu alarmes sobre a percepção de Bolsonaro quanto à segurança e sua permanência no poder.
Impactos das descobertas para as investigações
As anotações não apenas revelam o estado emocional e mental de Bolsonaro, mas também levantam questões sobre a possível conivência e conexões entre os envolvidos na trama. As observações parecem validar parte do que foi mencionado por Mauro Cid em sua delação, contribuindo para um entendimento mais amplo sobre os eventos que culminaram nos sucessos e nas controvérsias enfrentadas por sua administração.
Com a análise cuidadosa do conteúdo, os investigadores da PF poderão traçar ligações mais claras entre as declarações de Cid e as decisões que Bolsonaro tomou durante seu mandato. Embora essas anotações não tenham sido incorporadas ao inquérito de coação, elas podem servir como um indicativo vital na arquitetura de defesa do ex-presidente.
À medida que a investigação avança, a expectativa é de que novos elementos continuem a emergir, trazendo mais clareza para a sequência de eventos que cercaram a presidência de Bolsonaro e suas complicações jurídicas. Assim, o desdobramento desses acontecimentos promete ter um papel crucial não apenas para os envolvidos, mas para o futuro político do país.
As revelações sobre as anotações do ex-presidente Jair Bolsonaro mudam a dinâmica da investigação sobre seu governo e continuam a capturar a atenção do público brasileiro, que aguarda ansiosamente por mais informações e desdobramentos sobre o caso.