Em uma mensagem compartilhada no “X”, o Papa Leão XIV reiterou seu convite para que esta sexta-feira seja um dia dedicado à oração e jejum pela paz. O pontífice destacou a necessidade de unir esforços em uma visão comum, refletindo sobre os mais de 56 conflitos, muitas vezes “esquecidos”, que atualmente geram sofrimento e luto entre as populações ao redor do mundo.
A urgência da paz
O mundo está “ferido por contínuas guerras”, com pelo menos 56 conflitos identificados pelo portal independente ACLED (Armed Conflict Location and Event Data Project). Entre os conflitos mais notórios estão os da Gaza, da Ucrânia e do Sudão, porém muitos outros, que frequentemente envolvem atores não estatais, permanecem na sombra. Alguns desses conflitos, como as disputas de fronteira entre Tailândia e Camboja, ou a longa disputa entre Paquistão e Índia pela Caxemira, são exemplos de guerras “congeladas” que podem reativar a violência a qualquer momento.
O Papa Leão XIV, ao decretar um Dia de Jejum e Oração nesta sexta-feira, expressou a necessidade urgente de paz e perdão, com o intuito de “enxugar as lágrimas daqueles que sofrem por causa dos conflitos em curso”. A maioria das Conferências Episcopais e dioceses, a começar pela Conferência Episcopal Italiana, já aderiram à iniciativa. Após o anúncio, diversas dioceses e movimentos religiosos na Itália se mobilizaram, impulsionados pela chamada do cardeal Matteo Zuppi à “oração por uma paz desarmada e desarmante”.
A Conferência Episcopal Espanhola também se manifestou favoravelmente ao convite do Papa, lembrando a carta dirigida aos bispos onde seu presidente, dom Luis Argüello, instou os membros a intensificar as orações e esforços pela paz.
Uma mudança de perspectiva é essencial
A adesão à iniciativa do Papa foi positiva, mas ainda existe uma necessidade premente de “mudança de passo” nas esferas política e diplomática. O mundo enfrenta o que muitos consideram uma “Terceira Guerra Mundial em partes”, que no último ano resultou em gastos militares recordes de US$ 2,718 bilhões.
Desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, a Europa voltou a viver uma guerra sangrenta, refletindo a gravidade das tensões no continente. Entretanto, surgem esperanças de um acordo de paz histórico entre Armênia e Azerbaijão, que poderia pôr fim a mais de 30 anos de conflito. Em Gaza, a situação se deteriora com uma tragédia humanitária sem precedentes, enquanto a Cisjordânia e o Líbano devem lidar com os ecos de conflitos antigos e novas tensões.
Conflitos persistentes em todos os continentes
A África é um dos continentes mais afetados por conflitos, com a guerra civil no Sudão, que desde abril de 2023 gera a “pior crise de deslocados do mundo”, forçando 14 milhões de pessoas a deixar suas casas. Outros focos de conflito incluem o norte de Moçambique, os países do Sahel, Etiópia e Somália, bem como a Líbia, que continua dividida por guerras não resolvidas.
Na Ásia, em Mianmar, um conflito brutal entre a junta militar e grupos rebeldes se arrasta há anos. A Península Coreana e a fronteira entre Paquistão e Afeganistão também enfrentam tensões de longa duração, frequentemente ignoradas. A Oceania, por sua vez, lida com a violência tribal em Papua-Nova Guiné, e a América Latina, embora menos marcada por guerras abertas, sofre com o domínio do crime e da violência em países como o Haiti, onde 80% do território é controlado por gangues criminosas.
O caminho do perdão para alcançar a paz
Todos esses conflitos refletem um profundo sofrimento humano, especialmente para os mais vulneráveis. O apelo do Papa Leão XIV para uma mudança de perspectiva é urgente, pois “sem perdão nunca haverá paz”. O pontífice explicou que “o verdadeiro perdão não espera o arrependimento, mas é oferecido primeiro”, enfatizando que “perdoar não significa negar o mal, mas impedir que ele gere mais mal”.
Assim, o chamado do Papa se transforma em um convite para a reflexão e ação de todos, no sentido de promover uma cultura de paz em um mundo tão fragmentado e ferido.