Os bispos da Austrália renovaram seu apelo por uma recepção compassiva dos migrantes, em homenagem ao 75º aniversário de uma carta pastoral que influenciou a resposta do país à imigração. A iniciativa foi divulgada nesta quarta-feira (21), marcando a importância do documento “Under the Southern Cross: A Journey of Faith and Unity”.
Memória de um legado de acolhimento
O texto celebra a carta pastoral de 1950, “Sobre Imigração”, que incentivou os católicos a praticar “grande generosidade” aos europeus deslocados após a Segunda Guerra Mundial. A carta original, lida em igrejas de todo o país, descrevia a Austrália como um “santuário” e “abrigo” para refugiados perseguidos, fruto de “providência divina”.
Segundo o arcebispo Christopher Prowse, presidente da comissão, os católicos continuam chamados a “acolher, apoiar e abraçar” quem chega de outros países. “Os migrantes contribuíram significativamente para nossa nação”, afirmou Prowse, destacando que “todos nós nos beneficiamos de suas culturas, histórias, sabedoria e experiências”.
Demografia e diversidade cultural na Austrália
O documento celebra que cerca de um terço da população australiana — aproximadamente 8,2 milhões de pessoas — nasceu no exterior. A mudança na origem dos migrantes, antes majoritariamente europeia, reflete-se nos números atuais, com chegadas de países como China, Filipinas, Paquistão, Sri Lanka, Afeganistão, Iraque e Mianmar, segundo dados do Australian Bureau of Statistics.
A comunidade católica do país é altamente diversa, contando atualmente com mais de 5 milhões de fiéis, o que representa 20% da população, uma redução em relação a 2016, quando eram 22,6%, conforme o Centro Nacional de Pesquisa Pastoral.
Além disso, 21,4% dos católicos australianos nasceram em países de língua não inglesa, refletindo a ampla variedade de origens culturais e linguísticas celebradas nas missas em 42 idiomas diferentes nas Igrejas do país.
Desafios e avanços na convivência multicultural
O texto dos bispos reconhece que a experiência migratória nem sempre foi positiva e advertiu contra o preconceito ainda presente em alguns setores da sociedade australiana. “Apesar dos avanços em promover uma sociedade multicultural, o preconceito persiste, muitas vezes colocando ‘outros’ à margem do convívio social”, afirmam.
Com as tensões internacionais que influenciam o clima interno, os bispos reforçam seu apelo baseado na passagem bíblica de Mateus 25:40: “Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes”. Também fazem referência ao desafio de São João Paulo II, sobre abrir a porta ao estrangeiro.
Renovação na fé e esperança no país
O arcebispo Anthony Fisher, de Sydney, descreveu o momento como um “segundo spring” da fé, ao registrar um aumento de 30% no número de adultos convertidos na Páscoa de 2025, especialmente entre comunidades de origem chinesa e indonésia. A Igreja reconhece a significativa contribuição dos migrantes, cuja diversidade cultural tem enriquecido a sociedade australiana.
O documento finaliza citando o apelo do Papa Pio XIV, para que os fiéis sejam testemunhas vivas da esperança, promovendo comunidades onde os migrantes possam desenvolver seus talentos e participar ativamente da vida social e religiosa do país.