O Haiti atravessa um dos momentos mais sombrios de sua história recente. A vulnerabilidade da nação, profundamente afetada por conflitos internos e a falta de governança, expõe a população a riscos inimagináveis. O missionário camilliano padre Massimo Miraglio, que tem se dedicado a ajudar a comunidade local, revelou os desafios enfrentados para levar ajuda humanitária ao país caribenho, evidenciando a necessidade urgente de apoio internacional.
Os perigos da viagem
A jornada de esperança de um caminhão carregado de medicamentos, alimentos e materiais escolares começou em Jérémie e fez uma parada necessária em Port-au-Prince. O trecho que separa essas cidades, normalmente simples de percorrer, tornou-se um dos mais perigosos do Haiti devido à violência das gangues que dominam a área. O padre Massimo, que organizou a expedição por dois anos, enfrentou inúmeros obstáculos, desde a obtenção de licenças até o pagamento de propinas às milícias que controlam o trânsito nas estradas. “São verdadeiras propinas. Não se passa se não se paga”, lamenta o religioso.
A vitória amarga
Para o padre Miraglio, essa foi uma conquista amarga. Conseguiu levar suprimentos essenciais para sua comunidade, mas a experiência serviu como uma dura lembrança da realidade que o Haiti enfrenta: uma nação sob o controle de grupos criminosos. “Esse estado de coisas mostra como o governo não consegue mais exercer sua autoridade. O país está nas mãos de gangues”, comenta.
Um cenário de corrupção e violência
O aumento da criminalidade e a corrupção agora fazem parte do dia a dia dos haitianos. O padre observa que “as gangues não apenas arrecadam propinas, mas também empregam muitas pessoas no processo, criando um ciclo vicioso de dependência econômica.” Esse modelo paralelo de governo que substitui a administração legítima fez surgir um sistema mafioso onde a vida e a liberdade das pessoas estão em constante risco.
As consequências sociais
Além dos altos custos dos alimentos e serviços, que inevitavelmente aumentam devido aos subornos, a situação dos haitianos mais pobres se torna cada vez mais crítica. O padre Miraglio alerta para o aumento da fome em sua comunidade e ressalta que o medo é que essa situação se prolongue, resultando em um país dividido em pequenos territórios controlados por gangues. “Se nada for feito, o Haiti pode se fragmentar em diversos mini-estados. A Igreja condena essa situação há muito tempo, mas somos os únicos a levantar a voz”, enfatiza.
A necessidade de apoio internacional
Miraglio clama por um apoio mais robusto da comunidade internacional. “A resposta até agora tem sido insuficiente. Precisamos que outros países reconheçam a gravidade da situação e ofereçam não apenas ajuda humanitária, mas também uma estratégia eficaz para restaurar a ordem no Haiti”, defende. A esperança é que, com ajuda externa, seja possível recuperar a governança e a paz que o país tanto necessita.
Um futuro incerto
No meio de tanta adversidade, a determinação do padre Miraglio e de outros missionários em continuar lutando pela assistência às comunidades afetadas serve como exemplo de resiliência. No entanto, a transformação da realidade haitiana depende do reconhecimento global e da ação efetiva para combater as raízes da criminalidade e proporcionar estabilidade. O sofrimento do povo haitiano clama por solidariedade e ação, não apenas palavras.
Este é um chamado urgente para que a comunidade internacional não deixe o Haiti à mercê da violência e do desespero. A hora de agir é agora.