Brasil, 21 de agosto de 2025
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Reação de uma sex worker ao filme “Anora”: uma visão realista e indignada

Após o sucesso de “Anora”, dirigido por Sean Baker e estrelado por Mikey Madison, muitas discussões surgiram sobre sua fidelidade às experiências de profissionais do sexo. Uma acompanhante e dançarina de 25 anos, Emma*, de Manhattan, compartilhou sua opinião contundente, destacando divergências entre a ficção do filme e a realidade vivida por muitas na indústria do sexo.

Impressões autênticas e críticas à fantasia masculina

Emma reconhece que algumas cenas iniciais do filme, ambientadas em clubes, refletem bem o dia a dia das profissionais. “Quando assisti às primeiras cenas, fiquei entediada — o que provavelmente significa que eram fiéis à realidade, porque parecia que eu estava no trabalho”, ela conta. No entanto, seu incômodo surge diante da forma como algumas situações são retratadas com um viés idealizado.

Ela ficou particularmente indignada ao ver personagens comemorando a noiva Ani por suposta dependência emocional de um homem mais jovem, Vanya. “Nenhuma mulher que trabalha na indústria quer depender financeiramente de alguém assim. Elas fazem escolhas inteligentes para garantir sua estabilidade”, explica Emma, reforçando a resistência das profissionais ao romantismo imposto pelo roteiro.

A percepção de Emma sobre a personagem Ani

Para Emma, a personagem Ani, interpretada por Madison, representa uma fantasia masculina esquecendo o lado real da profissão. “Quando ela demonstra uma sexualidade tão exagerada, parece uma projeção de desejo de quem assiste, não a vida verdadeira de quem trabalha na área”, afirma. Além disso, ela critica o fato de Ani parecer confiar demais em alguém que acabou de conhecê-la, reforçando a vulnerabilidade na representação da personagem.

Preocupações com o romantismo e a idealização

A profissional explica que, na rotina real, a maioria das profissionais do sexo é consciente de sua troca de papéis entre a persona no trabalho e a vida pessoal. “Mudamos de identidades quando estamos no clube ou na rua, e não acreditamos que um cliente realmente se apaixona por nós — isso é uma ilusão que o filme alimenta”, diz Emma.

Ela destaca ainda que o filme reforça um estereótipo perigoso ao sugerir que relações de dependência e amor possam surgir em ambientes de trabalho sexual, o que ela considera uma visão distorcida e potencialmente prejudicial.

Críticas à representação do filme e a visão de Emma sobre a indústria

Emma também expressa ceticismo quanto à cena final em que Ani, após o casamento, demonstra uma hipersexualidade que ela associa a uma fantasia masculina. “Ela parece estar atuando para alguém que deseja ver uma mulher emocionalmente vulnerável e sexualizada, o que é uma representação distorcida da rotina de quem trabalha na área”, afirma.

“Se ela realmente precisasse de dependência financeira ou emocional, ela não estaria ali. E, na minha experiência, o fato de atuar de forma tão sexualizada só reforça a ideia de que tudo é baseado em dinheiro”, completa. Emma sente que o filme perpetua uma narrativa de sofrimento e vulnerabilidade que, na sua visão, não corresponde à verdade da maioria das profissionais.

Sobre as relações com homens e a cultura da navy no clube

Ela explica que muitos homens acreditam que podem se aproximar com uma sensação de “bom rapaz” ou que terão uma conexão verdadeira, o que ela considera uma ilusão. “Eles acham que são especiais, que vão conquistar a nossa atenção, mas sabem que podem ser facilmente substituídos”, relata. Emma alerta que o filme reforça esse estereótipo ao mostrar homens e clientes como se fossem seres humanos com emoções genuínas, o que ela vê como uma fantasia perigosa.

A dor, a realidade e a crítica à romantização

Ao falar sobre a cena em que Ani sofre ao perder alguém, Emma critica a representação do sofrimento emocional. “Tenho passado por dificuldades na minha rotina, mas elas geralmente não vêm da sexualidade, e sim da insegurança financeira e da desumanização que enfrentamos”, afirma.

Ela termina ressaltando que o filme aproveita-se da imagem de uma mulher triste e emocional para criar um drama que alimenta a sensação de autenticidade, embora essa seja uma narrativa dezusada de sua vivência real. “A verdade é que as profissionais trabalham duro, fazem suas escolhas e não precisam de uma história de sofrimento para existir”, conclui Emma.

*Nome fictício para proteger a identidade da entrevistada.

**Em relação à representatividade na mídia, Emma acredita que é fundamental que os filmes e produções abordem a experiência real das profissionais, mostrando a força, inteligência e autonomia das mulheres que atuam na indústria do sexo, ao invés de perpetuarem estereótipos de vulnerabilidade e dependência.*

Meta descrição: Uma sex worker de Nova York critica o filme “Anora”, destacando diferenças entre ficção e realidade na indústria do sexo.

crítica, cinema, indústria do sexo, representatividade, estereótipos

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