Brasil, 21 de agosto de 2025
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Falece Gérard Chaliand, ícone das lutas de libertação

Jornalista e escritor francês, Chaliand é lembrado por suas contribuições às lutas anticoloniais e pela defesa da independência de nações africanas.

O mundo do jornalismo e da literatura se despede de Gérard Chaliand, que faleceu em 20 de agosto de 2025, aos 91 anos, em Paris. Reconhecido por suas contribuições nas lutas de libertação, especialmente na Guiné-Bissau e Cabo Verde, Chaliand dedicou sua vida a documentar e apoiar causas que moldaram a história contemporânea.

A trajetória de um ativista e pensador

Durante as décadas de 60 e 70, Chaliand se destacou como jornalista, estrategista e geopolítico, dedicando sua voz e pena a lutas anticoloniais e anti-imperialistas em diversas partes do mundo, incluindo o Vietnã, a revolução cubana, a resistência palestina, a luta eritreia, o Curdistão e até mesmo o processo contra o Apartheid na África do Sul. Seu trabalho foi especialmente significativo durante a luta pela independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, onde sua dedicação se refletiu em livros e reportagens imersivas.

Publicações marcantes

Chaliand é autor de mais de 50 livros e centenas de reportagens, consolidando sua reputação como um dos grandes pensadores de sua geração. Em sua obra “A Ponta da Navalha”, ele oferta uma visão incisiva sobre o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) e seus líderes. Um episódio marcante relatado no livro destaca a admiração de Nelson Mandela por Amílcar Cabral, o icônico líder das independências africanistas. A conexão entre esses grandes ícones ficou evidente também na tese de doutoramento de Chaliand na Universidade de Sorbonne em 1975, intitulada “Mythes révolutionnaires du tiers monde, guérrilas et socialismes“, que faz referências substanciais a Cabral.

Outras obras significativas incluem “Lutte armée en Afrique”, onde compartilha suas experiências em zonas de combate na Guiné-Bissau, e “Les Bâtisseurs d’Histoire”, um tributo a Cabral que psicografa não apenas admiração, mas também amor pelas verdades que seus escritos buscavam disseminar.

Legado e homenagem

No ano passado, Chaliand foi homenageado em um colóquio na Universidade da Sorbonne, que abordou o centenário de Amílcar Cabral. O evento, sob a curadoria da professora Maria Benedita Basto, teve como tema “Libertação dos povos, da ressignificação e das realidades pós-coloniais”. Embora não tenha conseguido comparecer devido à saúde debilitada, a participação de Chaliand nas discussões sobre a história da descolonização é um testemunho duradouro de sua influência.

Em 2023, ele escreveu o prefácio do livro “Rotas da Cabo-verdianaidade” de Dulce Almada Duarte, publicado pela Rosa de Porcelana Editora, reafirmando seu contínuo compromisso com a literatura que promove a identidade e a cultura cabo-verdiana.

Contribuições acadêmicas e internacionais

Chaliand não apenas deixou um legado nas páginas de seus livros, mas também nas salas de aula. Lecionou na Escola Nacional da Administração e na Escola da Guerra na França, atuando como professor convidado em renomadas universidades, incluindo Harvard, Berkeley e UCLA. Sua influência se estendeu a instituições na Cidade do Cabo, Salamanca, Buenos Aires, Tbilissi, Erbil e Singapura, onde suas lições sobre os povos e suas lutas reverberam entre as novas gerações de líderes e pensadores.

Humanidade e admiração

Além de suas obras e atividades acadêmicas, Gérard Chaliand era um fervoroso admirador de grandes líderes como Che Guevara, Amílcar Cabral e Nelson Mandela. Sua busca por justiça social e sua voz inabalável em favor da liberdade se tornaram um modelo para muitos que lutam por mudanças em suas comunidades e países. Seu legado perseverará, inspirando futuros ativistas e jornalistas.

Chaliand parte, mas sua memória e trabalho são um compêndio das lutas pelas quais dedicou sua vida, um testemunho de um mundo que, embora em constante transformação, deve sempre se lembrar daqueles que transformaram a história.

(Nota da autoria de Filinto Elísio)

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