A milícia que opera nas cidades de Nova Iguaçu e Belford Roxo, na Baixada Fluminense, continua a ser uma sombra para os moradores e comerciantes locais. Uma investigação realizada pelo Ministério Público (MP) revela que o chefe do grupo criminoso, Jefferson Constant Jasmim, conhecido como Deco ou 01, tem conseguido comandar as atividades da milícia mesmo estando preso. A situação coloca em evidência a ousadia e a impunidade que cercam o crime organizado na região.
Cobranças e ameaças como rotina
Um dos aspectos mais alarmantes da atuação dessa milícia é o método usado para extorquir dinheiro de comerciantes, motoristas de vans, mototaxistas e empresas de internet e TV a cabo. Segundo o MP, a quadrilha realiza cobranças semanais, ameaçando aqueles que se recusam a pagar. Um áudio coletado pela investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) revela a brutalidade das cobranças.
Em um dos áudios, um dos membros da milícia é ouvido afirmando: “Ele tem que pagar. Ou ele paga com a vida, ou ele paga com um tiro no olho”. Essas declarações evidenciam não só a ameaça de violência, mas também a forma como a criminalidade se instalou profundamente no cotidiano da população local.
Controle territorial e violência brutal
A investigação também descobriu que mototaxistas que atuam por meio de aplicativos são proibidos de circular em áreas controladas pelos milicianos, uma medida que demonstra a extensão do controle que o grupo exerce sobre a região. Conversas obtidas pela polícia mostram planos de violência, com um dos denunciados afirmando que é necessário “quebrar um no pau” para que a situação mude.
“Quebrar as motos e a cara”, responde outro, reforçando a visceralidade dos planos de ataque. Essa brutalidade não é nova; ela se arraiga na história da milícia que, segundo as investigações, compete por território com outras facções criminosas da região, como o grupo de Jota da Grama e Juninho Varão.
Deco e sua liderança à distância
Jefferson Constant Jasmim, o Deco, não é apenas o líder, mas também uma figura central nas negociações das atividades da milícia de dentro do presídio. Recentemente, um áudio revelado pela investigação mostrou Deco negociando a compra de uma pistola, evidenciando como o crime organizado se perpetua mesmo em ambientes de máxima segurança.
No áudio, ele questiona sobre a possibilidade de pagar uma quantia de R$ 5 mil agora e o restante na semana seguinte. Essa transação ressalta como a criminalidade permanece interligada ao comércio de armas, essencial para a operação da milícia.
Medidas e resposta do governo
A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) informou que Deco foi transferido na tarde de quarta-feira (20) para a unidade prisional de Bangu 1, uma penitenciária de segurança máxima onde está em cela individual. A Seap também destacou que, desde o início do ano, foram apreendidos 91 celulares na unidade de Bangu 9, evidenciando o desafio enfrentado pelas autoridades em controlar a comunicação externa dos detentos.
Além da transferência de Deco, três outros indivíduos foram presos durante a operação e são suspeitos de ligação com a mesma quadrilha. A ação do MP e da polícia demonstra um esforço mais abrangente para desmantelar as atividades da milícia, mas os desafios são grandes. O controle que as milícias exercem sobre regiões como a Baixada Fluminense reflete a luta constante entre o crime organizado e a força do Estado.
A TV Globo tentou contato com a defesa dos presos, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria. A situação permanece em desenvolvimento, e a população continua a viver sob a sombra do medo imposto por essas organizações criminosas.
Espera-se que as investigações do MP e as ações policiais possam trazer alguma resposta às indagações da sociedade sobre como lidar com a violência e o controle que as milícias exercem, que afetam diretamente a vida da comunidade.