O National Cotton Council (NCC), associação de produtores de algodão dos Estados Unidos, solicitou participação na audiência de investigação do Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) contra o Brasil, marcada para 3 de setembro. A entidade alegou preocupações com o avanço do Brasil no mercado internacional de algodão e pediu que a USTR examine as políticas brasileiras.
Disputa pelo mercado global de algodão
Na solicitação, o NCC destacou o aumento “dramático” da produção e exportação de algodão pelo Brasil, além de apontar preocupações ambientais, como a degradação do Cerrado, e impactos políticos relacionados às políticas governamentais de apoio à expansão internacional do país.
“Agradecemos ao Presidente Trump e à USTR pela abertura desta investigação e solicitamos que avaliem cuidadosamente as políticas do Brasil, que impulsionaram seu crescimento nas exportações e representam desafios ao comércio norte-americano”, afirmou a associação.
Brasil e EUA na disputa pelos mercados
Apesar de o algodão não ter sido citado explicitamente na Seção 301, a preocupação dos EUA revela a disputa renovada pelo mercado global da commodity. No último ano, o Brasil se tornou o maior exportador mundial de algodão, assumindo a liderança pela primeira vez na história.
Segundo Dawid Wajs, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (ANEA), o Brasil exportou 1,493 milhão de toneladas no primeiro semestre do ciclo 2024/25, maior volume para esse período, consolidando a posição de líder global. As cifras indicam que, mesmo com o início mais lento da safra 2025/26, a previsão é de cerca de 2,97 milhões de toneladas, mantendo a supremacia.
Investimentos e avanços na produção brasileira de algodão
Wajs ressaltou que o crescimento brasileiro é resultado de décadas de investimentos em tecnologia, profissionalismo e inovação, especialmente no Cerrado, que passou de solo pobre a uma das regiões agrícolas mais produtivas do mundo, onde mais de 92% da área é cultivada sem irrigação.
Segundo ele, esse avanço garante competitividade de custo e alta qualidade da fibra, rivalizando com origens tradicionais do mercado internacional. O Mato Grosso permanece como maior produtor, com cerca de 1,5 milhão de hectares, seguido pela Bahia e outros estados como Minas Gerais, Piauí, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Goiás.
Diversificação do mercado e impacto ambiental
Wajs também destacou a redução da participação da China nas exportações brasileiras, que caiu de mais de 50% para aproximadamente 17%, refletindo maior diversificação. A iniciativa faz parte do programa Cotton Brazil, uma parceria da ANEA com a ApexBrasil.
Ele também defendeu o algodão como fibra sustentável, enfatizando que o mundo precisa aumentar o consumo de fibras naturais para combater a poluição por microplásticos e impactos na saúde, ressaltando a importância de escolhas ambientais corretas.
Histórico de disputas e relações comerciais
Disputas por esse mercado não são novas. Em 2002, o Brasil recorreu à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra subsídios americanos considerados ilegais, e, sob os governos Lula, obteve ganhos em tribunais multilaterais, com a OMC autorizando retaliações de até US$ 295 milhões contra os EUA. O argumento brasileiro é que subsídios anuais de cerca de US$ 3 bilhões sustentam a produção americana.
A disputa segue acirrada, refletindo interesses econômicos e políticos entre os dois maiores exportadores mundiais do algodão.
Fonte: O Globo