No último dia 21, o Banco do Brasil (BB) anunciou o cancelamento de dois cartões de crédito do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), referentes às bandeiras Visa e Mastercard. A medida foi tomada em cumprimento às restrições impostos pela Lei Magnitsky, que atinge indivíduos considerados responsáveis por violações de direitos humanos e corrupção, especialmente aqueles vinculados a empresas americanas. Com isso, Moraes não pode realizar transações com essas bandeiras, que têm sede nos Estados Unidos.
A crítica da embaixada dos EUA e a reação do setor financeiro
A decisão do BB vem em um momento delicado na relação entre o Brasil e os EUA. Recentemente, a Embaixada dos Estados Unidos publicou uma crítica ao ministro Moraes, ressaltando que “nenhum juiz brasileiro tem poder para anular a Primeira Emenda”, uma referência à liberdade de expressão. Além disso, o clima de tensão entre o governo e o STF tem motivado debates intensos entre os setores financeiro e jurídico do país.
Conforme relatado, após o bloqueio dos cartões, a instituição financeira ofereceu ao ministro um cartão alternativo da bandeira Elo – uma bandeira nacional resultante de uma parceria entre o Banco do Brasil, Bradesco e Caixa Econômica Federal. Além disso, os limites dos cartões bloqueados foram transferidos para o novo cartão.
Investigando as implicações da Lei Magnitsky
A Lei Magnitsky, que tem origem nos Estados Unidos, causa controvérsias e incertezas desde sua aplicação no Brasil, especialmente no que diz respeito às ordens judiciais estrangeiras. Pelo fato de ter sido enquadrado na Magnitsky a partir de uma ordem do ex-presidente Donald Trump, Moraes fica impossibilitado de realizar transações com instituições financeiras americanas.
De acordo com a avaliação dos executivos do Banco do Brasil, a não adoção de medidas de bloqueio contra Moraes poderia acarretar punições à instituição financeira, visto que o banco é listado na Bolsa de Valores e possui operações nos EUA. A preocupação é grande, tendo em vista a possibilidade de prejuízos não apenas ao banco, mas também aos seus clientes.
O que está sendo dito nos bastidores do STF
Internamente, há um debate sobre a aplicabilidade da Lei Magnitsky no Brasil. Ministros do STF foram procurados por integrantes do mercado financeiro para discutir a decisão do ministro Flávio Dino, que afirmou não existir uma aplicação automática de ordens judiciais estrangeiras no território brasileiro. A falta de clareza sobre esta questão tem levado a teses e discussões sobre a necessidade de diálogo sem pressões entre os bancos e a Corte.
Recentemente, Rodrigo Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras, se encontrou com o ministro Cristiano Zanin, relator da ação que tramita na Corte e versa sobre a aplicação da Lei Magnitsky. Outros magistrados também têm recebido apelos do setor bancário em busca de um caminho que possa esclarecer a situação e minimizar as incertezas geradas pela decisão recente de Dino.
Expectativas e possíveis desdobramentos
Apesar das críticas internas sobre a forma como a decisão foi tomada, ministros do STF têm se mostrado abertos a receber esclarecimentos do mercado financeiro. A questão, segundo interlocutores, é que o momento exige cautela e não pode ser tratado sob pressão. O entendimento no STF é de que todos os esclarecimentos podem ser feitos, caso solicitados de maneira formal.
Com o desenrolar da questão, o impacto das decisões judiciais sobre indivíduos e instituições financeiras brasileiras está sendo intensamente monitorado, especialmente considerando a relevância das relações comerciais e financeiras entre Brasil e Estados Unidos. A situação do ministro Moraes, portanto, transcende o âmbito pessoal e adentra o campo das relações diplomáticas e comerciais, evidenciando a complexidade das interações entre política e economia no cenário atual.
Como será a resposta do governo e do setor financeiro diante das restrições? As próximas semanas prometerão novas discussões e, possivelmente, novas decisões que poderão impactar o futuro das relações Brasil-EUA e a aplicação de legislações estrangeiras no país.