O tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a produtos brasileiros, intensificou as discussões sobre a possibilidade de Geraldo Alckmin (PSB) repetir a dobradinha com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2026. Para muitos petistas, a atuação do vice-presidente, que foi designado para coordenar a resposta ao governo norte-americano, saiu fortalecida após a crise.
A atuação de Alckmin na crise comercial
A resposta de Alckmin à crise com os Estados Unidos foi amplamente elogiada, o que resultou em uma maior visibilidade junto à população. Um dos principais trunfos do ex-governador é o bom diálogo que mantém com o setor empresarial. Nas últimas semanas, uma das suas responsabilidades foi ouvir empresários impactados pelo tarifaço e apresentar soluções.
Além disso, Alckmin conta com a confiança de Lula. O presidente já declarou publicamente que considera ter acerto ao escolher Alckmin como seu vice, destacando sua lealdade e a importância de não repetir o que aconteceu com o ex-presidente Michel Temer. “O Alckmin tem feito um trabalho extraordinário. Eu, sinceramente, acho que foi um acerto trazer o Alckmin para ser vice. Porque senão você poderia trazer uma pessoa que depois ficasse tentando, como o Temer, dar um golpe na Dilma. O Alckmin não é esse tipo de gente”, afirmou Lula em uma entrevista ao podcast Mano a Mano.
Alckmin coordena resposta do Brasil a Donald Trump
- Em abril, Trump anunciou uma tarifa inicial de 10% sobre os produtos brasileiros. Em agosto, essa alíquota foi aumentada para 50%, ampliando a crise comercial.
- Alckmin argumenta que a tarifa representa um “perde-perde”, encarecendo produtos americanos e rompendo cadeias produtivas. Após a implementação da nova tarifa, ele se encontrou com o encarregado de Negócios dos EUA em Brasília, Gabriel Escobar, classificando o encontro como “bom”.
- O vice-presidente tem ressaltado a necessidade de “acalmar os ânimos” e intensificar as negociações diplomáticas, afirmando que não há justificativas econômicas para a tarifa de 50%.
- Um dos principais objetivos da negociação é a redução da alíquota, a exclusão de mais produtos da taxação, o socorro a setores mais afetados e a diversificação de mercados.
Os efeitos do tarifaço sobre a popularidade de Alckmin foram testados em uma pesquisa Datfolha recente. O levantamento, divulgado no início de agosto, revelou que o vice-presidente chegaria a empatar em uma possível disputa à presidência com o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), num cenário sem Lula.
Nesse contexto, Alckmin supera a principal aposta do PT para a sucessão de Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que, segundo o Datafolha, perderia para Tarcísio.
Disputa pela chapa com Lula em 2026
Apesar do fortalecimento de Alckmin, a escolha do nome que irá compor a chapa ao lado de Lula em uma possível reeleição ainda é incerta. A vaga está sendo disputada por siglas como PSD e MDB. Alckmin também é considerado um possível candidato ao governo de São Paulo ou ao Senado, como uma estratégia para ampliar a base aliada no estado. Outros nomes considerados para a disputa do Palácio dos Bandeirantes incluem os ministros Fernando Haddad e Márcio França (PSB), do Ministério do Empreendedorismo.
A partir de setembro, a situação deve se tornar mais clara, com a instalação do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do PT, que realizará um diagnóstico da conjuntura em cada estado. O Metrópoles conversou com diversos membros do PT, que destacam o desempenho de Alckmin durante as ações contra o tarifaço, mas reforçam que ainda é prematuro definir o nome que comporá a chapa com Lula no próximo ano.
Possíveis alvos centristas para a chapa
Uma ala do PT defende que um nome mais ao centro deveria ser escolhido para ocupar a posição de candidato a vice-presidente junto a Lula. Essa percepção ganhou força após a eleição de Edinho Silva para a presidência do partido. Edinho, ex-ministro da Secom e ex-prefeito de Araraquara, deve buscar um posicionamento mais discreto e aproximar-se de partidos centristas. Recentemente, ele promoveu um jantar em Brasília com figuras de diferentes espectros políticos, incluindo nomes próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Nessa linha, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), e o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), também têm se articulado para uma possível inclusão na chapa com Lula para as próximas eleições presidenciais. Lula chegou a se reunir com líderes do MDB para discutir cenários, mas até agora nada foi decidido.