Duas semanas após a implementação do tarifaço de 50% por parte de Donald Trump em produtos brasileiros, e da adoção de diversas sobretaxas contra outros parceiros comerciais dos EUA, o cenário internacional se mostra marcado por maior incerteza e menor expectativa de crescimento econômico. Especialistas alertam que as ações protecionistas elevam a volatilidade e dificultam a recuperação do crescimento global.
Protecionismo e suas consequências na economia global
Economistas tentam incorporar em suas projeções o impacto do aumento das tarifas impostas pelos Estados Unidos, mas fatores mais difíceis de mensurar, como a deterioração nas relações com Washington, também pesam na incerteza. Os desdobramentos da Lei Magnitsky, por exemplo, acrescentaram elementos que reforçam o clima de instabilidade nos mercados financeiros internacionais.
Dados de desaceleração econômica e previsões revisadas
O indicador IBC-Br, que funciona como uma prévia do PIB brasileiro, mostrou uma contração de 0,1% em junho, refletindo sinais de que a economia brasileira está começando a perder fôlego, mesmo com avanço de 1,8% no primeiro semestre. Já o Banco Mundial revisou para baixo suas previsões de crescimento global em 2025, de 2,7% para 2,3%, a menor marca em 17 anos, excluindo crises anteriores como a de 2009 e a pandemia de 2020.
Segundo o banco, mercados emergentes, incluindo o Brasil, devem registrar crescimento médio de 3,8%, ante 4,1% previstos anteriormente, sinalizando uma desaceleração que deve perdurar.
Cenas de incerteza e seus efeitos na economia mundial
Especialistas destacam que o baixo nível de investimento e a turbulência política agravada pelo ambiente de protecionismo contribuem para frear a expansão econômica. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) observa que a baixa de investimentos por parte das empresas pode comprometer ainda mais o crescimento global, além de elevar a volatilidade nos mercados financeiros.
O economista Roberto Padovani, do banco BV, avalia que o tarifão de Trump reforça uma tendência de desaceleração estrutural em países como China e Alemanha, afetando a recuperação e a competitividade dessas economias. Além disso, o ambiente marcado por incertezas impacta o fluxo de capitais internacionais, pressionando o dólar como reserva de valor mundial.
Reações e o futuro da política comercial dos EUA
Apesar das tensões, os Estados Unidos aceitaram pedido do Brasil para negociar na Organização Mundial do Comércio (OMC) a justificativa do tarifão. Ainda assim, os analistas alertam que a instabilidade promovida por Trump cria um cenário de imprevisibilidade, dificultando decisões de investimento e planejamento econômico no mundo todo.
O impacto direto nas tarifas de produtos essenciais, como aço e alumínio, que foram ampliadas para mais de 400 itens, redefine custos e competitividade, resultando em um aumento de preços e uma possível retração nos fluxos comerciais internacionais. A perspectiva é de que essa mudança nas relações comerciais seja duradoura, provocando uma desaceleração compensatória, mais lenta porém mais constante.
Perspectivas futuras e desafios internacionais
O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta crescimento global de 3% para este ano, uma desaceleração em relação aos 3,3% de 2024 e aos 3,7% pré-pandemia. A incerteza causada pelo ambiente protecionista, aliada à desaceleração econômica em regiões-chave, como China e Europa, sinaliza um período de maior turbulência e menor expansão do comércio internacional.
Para especialistas como Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, o efeito do tarifão não se restringe ao Brasil, mas reverbera globalmente através de uma menor intensidade de crescimento e investimento. A incerteza generalizada impede que empresas e governos tomem decisões de longo prazo, agravando o cenário de desaceleração mundial.
Mais detalhes sobre as implicações do tariffo de Trump podem ser encontrados na matéria do Globo.