Em 17 de agosto de 2025, celebramos a marca de 80 anos desde a primeira publicação de A Revolução dos Bichos, de George Orwell. O autor, que faleceu em 1950 devido a tuberculose, deixou um legado literário que provoca reflexões sobre a condição humana e a política. À medida que honramos sua obra, surge a indagação: será que algum autor da atualidade será lembrado em 2105? A pergunta nos leva a imaginar um futuro incerto, especialmente considerando a crise climática que enfrentamos e as transformações tecnológicas aceleradas que revolucionam a sociedade.
A relevância de “A Revolução dos Bichos”
Para entendermos por que Orwell continua a ser celebrado, é pertinente questionar a relevância de A Revolução dos Bichos em comparação com outros títulos da mesma época, como Brideshead Revisited, de Evelyn Waugh, ou Um envenenado de cianeto, de Agatha Christie. O que diferencia Orwell é a profundidade de suas verdades, que ainda ressoam em 2025. Uma interpretação possível é que nossas sociedades não mudaram de forma tão significativa desde 1945, ou que a perspectiva política da época de Orwell transcende seu tempo, tornando-se um permanente alerta contra totalitarismos.
O contexto histórico de “A Revolução dos Bichos”
Ao analisarmos as diferenças entre 1945 e 2025, percebemos eventos marcantes que moldaram o mundo atual. O fim da Segunda Guerra Mundial estabeleceu um novo paradigma político e social, mesmo diante de guerras e tensões que ainda persistem. Contudo, A Revolução dos Bichos é também um reflexo de acontecimentos anteriores, como a Guerra Civil Espanhola, a qual Orwell viveu de perto e que o inspirou a criticar a opressão, evidenciada na obra através da sátira ao estalinismo e ao totalitarismo.
Vale destacar que, após várias rejeições de editoras, o livro foi eventualmente publicado em um momento crucial, logo após a rendição do Japão. Sua crítica incisiva aos regimes totalitários rendeu a Orwell um reconhecimento instantâneo e uma ostentação em sua fama literária.
A mensagem atemporal de Orwell
Orwell vai além de criticar um líder tirânico; ele traça um retrato da liberdade que se esvai sob regimes totalitários. Ele evidencia como a manipulação da linguagem é um dos pilares da opressão, um tema que também se torna central em sua obra 1984. Os sete mandamentos que regem a sociedade dos bichos inicialmente visam a equidade, mas conforme os líderes se corrompem, as regras sofrem modificações, permitiendo a deslegitimação da liberdade.
Essa habilidade de capturar nuances da manipulação política mostra-se mais pertinente do que nunca, especialmente quando percebemos que estratégias semelhantes são usadas na política contemporânea. A frase “nós sempre teremos primárias, porque somos democráticos”, por exemplo, se transforma em “vamos eleger quem é mais conveniente para o líder do partido, pois isso é o melhor para todos”. Essa resiliência da obra é uma advertência contra o autoritarismo: Orwell nos avisa a estarmos atentos às formas disfarçadas de controle.
A humanidade por trás da obra
O que torna a escrita de Orwell particularmente ressonante é sua profunda humanidade. Não se trata apenas de um autor talentoso ou corajoso, mas de um observador perspicaz da condição humana. Ele expressa verdades que mexem com nossa percepção do real, oferecendo clareza que desafia manipulações. Em tudo que escreveu, ele revela um núcleo ético intrínseco à condição humana, destacado ainda mais em obras como A Revolução dos Bichos.
Orwell criticava o imperialismo britânico, enfrentava fascismo e defendia um socialismo democrático que o colocou em conflito com o establishment britânico. Sua capacidade de ver além das camadas ideológicas, de expor verdades incômodas, o faz ressoar com leitores mesmo décadas após sua morte. A firmeza de sua escrita permite que reconheçamos sua voz não apenas como um eco do passado, mas um chamado à ação no presente.
O legado de Orwell e a busca por relevância
Ao nos perguntarmos se alguma obra atual terá a durabilidade de A Revolução dos Bichos, é essencial refletir sobre a natureza da condição humana. Em um mundo que ainda luta contra guerras, abusos e a busca insaciável por poder, a capacidade de captar e refletir essas experiências ajudará qualquer autor a deixar um legado duradouro. Assim como Shakespeare, Orwell mantém sua relevância porque aborda o que é fundamentalmente humano. Embora o contexto mude, os sentimentos de esperança, poder, compaixão e abuso parecem atemporais.
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