Após a imposição de tarifas de 50% pelos Estados Unidos, empresários e entidades aliadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro estão tentando uma aproximação com o governo Lula. O impacto dessas tarifas, que afetam diretamente setores como o de armamentos e supermercados, motivou os empresários a buscar uma solução que minimize os prejuízos. Essa movimentação reflete um momento de transformação nas relações políticas e comerciais, especialmente considerando que muitos desses grupos celebraram a eleição de Donald Trump à Casa Branca, mas agora enfrentam desafios inesperados com a nova política tarifária.
A resposta das indústrias ao tarifaço
Dentre as empresas que estão buscando alternativas, destaca-se a Taurus, um dos principais fabricantes de armas e munições do país. O CEO global da companhia, Salesio Nuhs, que anteriormente apoiou a gestão de Bolsonaro, revelou que a expectativa de crescimento do setor sofreu uma queda abrupta devido às novas tarifas. A Taurus viu suas ações caírem em 7% logo após a aplicação das tarifas, resultando em uma perda de mais de R$ 33 milhões em valor de mercado. Frente a esse cenário, representantes da empresa procuraram o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, para discutir a importância estratégica da companhia.
Durante uma teleconferência com investidores, Salesio enfatizou a necessidade de discutir a autonomia do Brasil, mencionando que o ministro da Defesa se uniu a ele nessa mensagem. A Taurus já está considerando a possibilidade de transferir sua linha de produção principal para os Estados Unidos, onde a maioria de sua produção é exportada.
Consequências para o agronegócio e supermercados
Além do setor de armamentos, o agronegócio também está enfrentando dificuldades com o tarifaço. A Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) reportou uma perda estimada em US$ 5,8 bilhões em exportações para os Estados Unidos como consequência das novas tarifas. A CNA, que no passado havia estendido apoio a Bolsonaro, expressou preocupação em um comunicado recente, criticando a atual política nacional. O presidente da entidade, João Martins, havia afirmado anteriormente que não haveria espaço político no Brasil para um candidato que foi processado e preso, referindo-se a Lula.
O setor supermercadista também não ficou de fora. Na semana passada, representantes da área apresentaram um “plano emergencial” ao governo, que continha propostas de incentivos ao crédito. Ações que também foram notadamente debatidas durante um fórum que contou com a presença de Alckmin. O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Galassi, esteve presente na posse de Trump e agora se vê em uma situação onde as promessas feitas anteriormente enfrentam um novo cenário tecnológico e econômico.
Uma nova dinâmica política e comercial
As movimentações recentes mostram que, apesar do alinhamento anterior a Bolsonaro, os setores afetados estão dispostos a mudar de estratégia e buscar dialogar com o novo governo. Essa adaptação é evidente nas conversas entre empresários e políticos, incluindo representantes da nova administração. A busca por soluções para os prejuízos econômicos e para a continuidade dos negócios demonstra uma virada no discurso governamental e uma flexibilização das relações políticas.
O cenário atual revela que as prioridades do governo Lula podem se desdobrar em apoios mútuos, mesmo de setores que outrora eram críticos. A necessidade de encontrar soluções práticas frente à crise imposta pelas tarifas executa uma nova dinâmica, que pode resultar em tratados e acordos futuros, conforme as partes buscam alinhar interesses em meio a uma economia turbulenta.
Assim, a aproximação entre empresários e o governo é um reflexo da urgência com que os setores produtivos procuram acomodar-se e superar os desafios que surgem com as novas políticas comerciais. Tanto o setor de armamentos quanto o agrícola estão passando por uma reestruturação, sendo forçados a dialogar e colaborar, independentemente das ideologias políticas do passado.