No dia 10 de agosto, entrou em vigor a sobretaxa americana sobre produtos brasileiros, elevando em até 50% os encargos para itens como aço semiacabado, alumínio, etanol e alguns produtos químicos. Apesar do impacto direto em setores importantes, o governo brasileiro tem evitado retaliações, seguindo uma estratégia de negociação cuidadosa.
Decisão de não retaliar e estratégia de negociação
Na semana, o governo anunciou medidas para lidar com as tarifas americanas, mas sem incluir retaliações diretas, ao contrário do que fizeram outros países, como a China. Segundo pesquisa do Instituto Genial/Quaest, divulgada em 8 de agosto, 53% dos brasileiros consideram que Lula está certo ao reagir com reciprocidade às tarifas de Trump, o que reforça o debate sobre a postura do Brasil em relação à guerra comercial.
Especialistas de negociações internacionais explicam que a decisão de evitar retaliações não é impulsiva, mas uma estratégia fundamentada em técnicas sofisticadas ensinadas em cursos de MBA, como as de Deepak Malhotra (“Negotiating the Impossible”) e Roger Fisher e William Ury (“Getting to Yes”). Essa avaliação profunda busca entender as posições de ambos os lados, considerando riscos e ganhos potenciais.
Impactos e riscos de uma possível retaliação
Se o Brasil decidir por medidas retaliatórias, o risco de agravar ainda mais a situação é alto. A resposta americana possui um arsenal de contramedidas mais robusto, o que pode resultar em uma escalada prejudicial ao país, como tarifas adicionais sobre produtos brasileiros ou suspensões de patentes.
Desde o lado brasileiro, as opções de retaliação são limitadas. Taxar produtos importados dos EUA, já bastante elevados, prejudicaria consumidores e setores industriais. Suspender patentes pode trazer riscos de longo prazo, como a perda de acesso a tecnologias e medicamentos inovadores, investimentos que levaram anos para serem consolidar.
Contexto político e diplomático
A disputa ultrapassou o âmbito econômico e contaminou o ambiente político. O afastamento dos EUA de organismos multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio, torna difícil estabelecer canais diplomáticos eficientes. O impasse pode se agravar, já que a relação de alta tensão reduz as possibilidades de negociações eficazes.
Segundo analistas, o Brasil precisa de uma estratégia de longo prazo, que envolva a reabertura de canais diplomáticos e a aproximação com setores influentes nos Estados Unidos. Para o governo, o desafio é manter uma postura firme sem gerar custos políticos excessivos, tarefa que exige pragmatismo e paciência.
Próximos passos e perspectivas futuras
Para aumentar sua influência, o Brasil busca fortalecer sua presença internacional. Em setembro, o presidente Lula defenderá a soberania brasileira em discurso na ONU, uma oportunidade de reforçar sua posição no cenário global. Além disso, trabalha-se na construção de canais diplomáticos mais sólidos e na articulação de uma posição comum entre governo e setor privado.
Se o país conseguir equilibrar firmeza e diálogo, poderá evitar um conflito mais profundo na guerra comercial e avançar na defesa de seus interesses econômicos e estratégicos, mesmo diante de um cenário de tensões globais ampliadas.