Brasil, 16 de agosto de 2025
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Futebol e a metáfora da vida: a reflexão sobre torcidas e violência

Reflexão sobre a relação das torcidas com a violência no futebol e a identitária tribal dos fãs em tempos de crise.

Recentemente, ao ler um livro da poeta brasileira Marília Garcia, me deparei com uma estrofe da polonesa Wisława Szymborska que evocou uma interessante conexão com o mundo do futebol. A passagem fala sobre como cada começo é, na verdade, uma continuação, assim como o livro dos eventos que nunca se fecha. Essa analogia parece particularmente relevante quando falamos do cenário esportivo brasileiro, onde o futebol se apresenta como uma eterna narrativa, repleta de personagens que se reinventam a cada temporada.

O futebol como um livro aberto

No universo do futebol, cada temporada é uma nova oportunidade para protagonistas e torcidas se conectarem a uma narrativa muito própria. Os jogadores, assim como roteiros, evoluem ou se perdem, mudam de clubes ou caem no esquecimento. Essa dinâmica mantém viva a chama da paixão entre os torcedores, que acompanham com fervor as reviravoltas de seus times.

Muitos fãs se apegam aos seus clubes como se fossem parte de suas identidades. E isso inclui desde os que torcem incondicionalmente até aqueles que ficam a mercê de vitórias e derrotas. O futebol, nesse sentido, se torna um oásis de significado e sentimento em um mundo que parece cada vez mais fragmentado e veloz, onde a verdade é frequentemente substituída por informações tendenciosas.

A violência no futebol: um problema crescente

Entretanto, ao mesmo tempo em que o futebol representa interações e celebrações, também levanta preocupações sérias. Recentemente, um episódio alarmante envolvendo a torcida do Palmeiras expôs a fragilidade que cerca a relação entre torcedores e clubes. A sede do clube foi atacada com bombas e rojões na véspera de um jogo devido à eliminação diante do Corinthians na Copa do Brasil. Tal ato de agressão não é isolado, mas sim parte de um padrão preocupante que tem surgido com cada vez mais frequência.

Nos últimos anos, times como Palmeiras e Flamengo se destacaram em disputas acirradas pela supremacia nacional, mas essa rivalidade deveria ser uma fonte de competição saudável e entretenimento, não de violência e desmedida paixão. O treinador Abel Ferreira, que se tornou o mais vitorioso da história da equipe, já teve seus feitos ofuscados por gritos de insatisfação nas arquibancadas, algo que evidencia a pressão que jogadores e técnicos enfrentam.

Torcedores e a identidade tribal

A identidade tribal que muitos torcedores sentem em relação aos seus times pode levar a uma desumanização desses mesmos personagens que choram e riem junto deles. Esse fanatismo muitas vezes resulta na crença de que vencer é uma obrigação, e a derrota é motivo suficiente para justificar qualquer tipo de revolta. A recente invasão ao treino do Sport Recife, onde jogadores foram ameaçados com base em um prontuário criminal, exemplifica esse cenário perturbador.

Essa cultura de violência e intimidação somente perpetua a noção de que, para alguns, o futebol não é apenas um jogo, mas um campo de batalha onde qualquer custo é aceitável. É um momento crucial para que os clubes e suas torcidas reflitam sobre o impacto de suas ações e a verdadeira essência do esporte.

Caminhos para um futuro mais seguro

É vital que os clubes se unam para estabelecer medidas de segurança mais eficazes e criar um ambiente onde a competição possa ser saudável, longe de qualquer tipo de violência. Ignorar os sinais de alerta, como os episódios recentes, pode culminar em tragédias irreparáveis. A indignação frente a esses atos deve se transformar em ação, criando estratégias não apenas para punir os vândalos, mas para educar as torcidas sobre o respeito e as possibilidades que o futebol oferece como uma forma de arte e comunidade.

Voltemos agora a Szymborska, que nos lembra que nossas palavras e ações, assim como o futuro, são intrinsecamente ligadas ao passado. A relação que temos com o futebol deve ser reexaminada à luz dessa compreensão, buscando não apenas a vitória, mas a construção de uma narrativa que una e eleve os seres humanos, ao invés de dividir e perpetuar a violência.

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