Brasil, 16 de agosto de 2025
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Regime de Ortega confisca escola católica símbolo de resistência

Nicaragua confiscou a escola católica San José, acusando os responsáveis de tortura e assassinato durante tentativa de golpe em Jinotepe

Na véspera do aniversário de um período marcado por repressão, o regime ditatorial de Daniel Ortega e Rosario Murillo confiscou a emblemática Escola Católica San José, em Jinotepe, na Nicarágua, acusando os responsáveis de abrigar criminosos que torturaram e mataram durante o levante de 2018. A ação ocorreu nesta quinta-feira (15), reforçando o ataque à liberdade religiosa no país.

Justificativa oficial e contexto da confiscação

Conforme divulgação de um órgão alinhado ao regime, Murillo afirmou que “a escola foi transferida ao Estado por simbolizar barbárie, pois lá ocorreram crimes durante a ocupação do golpe”, referindo-se ao episódio de 2018, quando centenas de pessoas morreram na tentativa de protestar contra o governo. Segundo ela, a escola foi palco de tortura e assassinato de “companheiros” pelo que chamou de “tentativa de golpe” que, para o regime, justifica a confiscação em nome da “paz” e da “vitória”.

A escola, fundada em 1980 pelas Irmãs de São José, sempre foi reconhecida por oferecer educação de qualidade com valores cristãos e humanistas. Desde então, a instituição se tornou símbolo de resistência e dedicação à formação de jovens em um país marcado por repressões constantes.

Martínez, símbolo da repressão e mártir

A decisão de transformar o prédio em patrimônio do Estado recorda o assassinato de Bismarck Martínez, um simpatizante sandinista que desapareceu na mesma zona em junho de 2018, após ser perseguido por forças policiais e paramilitares. Sua morte, considerada um marco da repressão, foi posteriormente usada pelo regime como símbolo da luta contra “o golpe” e martirizada na narrativa oficial.

Martínez foi sequestrado, torturado e posteriormente considerado morto pelo regime, aumentando a controvérsia e a preocupação internacional. Segundo o jornal Confidencial, a narrativa do governo visa reforçar a versão de que o país enfrenta uma tentativa de golpe de Estado, alimentando a narrativa de ameaças internas.

Repressão e impacto na comunidade católica

Jinotepe foi uma das cidades mais atingidas pelos ataques do governo na operação de repressão de 2018, na qual pelo menos 32 pessoas foram mortas, segundo Articuo 66. A confiscração da escola, que abriga a congregação das Irmãs de São José, representa uma afronta à liberdade religiosa e à educação baseada em valores cristãos, além de uma perda para a comunidade local.

Especialistas e organizações de direitos humanos classificaram o ato como uma “atentado contra a liberdade religiosa” e uma tentativa de eliminar qualquer espaço de resistência às políticas autoritárias de Ortega. Martha Patricia Molina, especialista e autora do relatório “Nicarágua: Uma Igreja Perseguida”, afirmou que 12 de agosto será lembrado como “um dia de infâmia para a liberdade religiosa” no país.

Reação internacional e perspectivas futuras

O Departamento de Estado dos EUA condenou a ação, por meio de sua conta oficial no X (antigo Twitter), chamando de “prova da crueldade sem limites da ditadura de Murillo-Ortega”. Organizações internacionais e líderes religiosos também expressaram preocupação, destacando o golpe na liberdade de culto e educação no país.

Enquanto isso, os pais das crianças que estudavam na Escola San José manifestam seu descontentamento. Cecilia, uma das mães entrevistadas pelo jornal Confidencial, declarou: “Essa apropriação da escola, que formou gerações em valores cristãos, é um roubo deplorável. Não quero minha filha em uma escola onde predomine a doutrinação por uma ditadura.”

Professor e pai, Santiago, também expressou sua indignação: “Sinto-me triste e revoltado, pois estão destruindo o pouco que resta de educação de qualidade no país.”

A comunidade internacional continuará acompanhando a situação, que representa mais um capítulo da perseguição religiosa e repressão contra a sociedade civil na Nicarágua, agravando ainda mais o clima de violações dos direitos humanos no país.

(Texto originalmente publicado por ACI Prensa, parceiro de notícias em espanhol, e adaptado por CNA.)

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