A montadora chinesa Great Wall Motor (GWM) inaugurou nesta sexta-feira sua nova fábrica em Iracemápolis, interior de São Paulo, onde serão produzidos SUVs, picapes e veículos híbridos, impulsionando sua estratégia de expansão na América Latina. A unidade, instalada na antiga fábrica da Mercedes-Benz, tem capacidade inicial para 50 mil veículos por ano, com planos de ampliar a produção para 100 mil unidades após a implantação de um segundo turno.
GWM: nova fase de produção no Brasil e estratégia de crescimento
Segundo Mu Feng, CEO global da GWM, a fábrica de Iracemápolis é o terceiro maior complexo fora da China, representando uma entrada importante no mercado latino-americano. A marca venderá modelos como o Haval 6, em versões híbridas e plug-in, além da picape Poer e o Haval H9, ambos em versões a diesel. “Nosso objetivo é oferecer produtos de diversos segmentos e energias, além de fortalecer nossa presença na região”, afirmou durante a cerimônia de inauguração.
O executivo revelou que a meta de produção anual na unidade brasileira varia entre 250 mil e 300 mil veículos, dependendo do desenvolvimento de demandas e estratégias de mercado. A fábrica foi adaptada a partir da estrutura da antiga unidade da Mercedes-Benz, aproveitando as linhas de produção e robôs importados da China e do Japão, testados previamente por lá para assegurar o bom funcionamento.
Investimentos e perspectiva de crescimento
O projeto representa um investimento de R$ 10 bilhões até 2032, incluindo compra, remodelação, pesquisa e desenvolvimento. Segundo Ricardo Bastos, diretor de Relações Institucionais e Governamentais da GWM Brasil, R$ 4 bilhões serão desembolsados até o final de 2026 para ampliar a capacidade, criar um centro de engenharia e ampliar a rede de concessionárias, que já conta com 105 unidades no país.
A operação no Brasil começou em 2021, com a aquisição da antiga fábrica da Mercedes-Benz, e agora marca uma fase de consolidação da presença da marca chinesa no país, com foco na eletrificação e inovação tecnológica. A GWM pretende produzir inicialmente 30 mil veículos este ano, ampliando progressivamente até atingir o limite de 50 mil unidades anuais e, potencialmente, uma nova unidade no futuro próximo.
Integração com o mercado local e desafios
O presidente da GWM internacional, Parker Shi, destacou a importância do Brasil na estratégia global da marca. “A entrada na América Latina é um passo decisivo, conectando o Brasil ao restante da região”, afirmou, ressaltando o estudo de produtos específicos para o mercado brasileiro e a busca por nacionalização de componentes.
Com a redução do imposto de importação para componentes CKD e a possibilidade de criar uma cadeia de fornecimento nacional, a GWM visa competir de forma mais eficiente e expandir sua participação no segmento de SUVs e veículos elétricos, de alta tecnologia e preços acessíveis, que variam de R$ 199 mil a R$ 325 mil na versão GT.
Contexto do mercado automotivo chinês no Brasil
O Brasil se tornou alvo de várias montadoras chinesas, que buscam aproveitar a saída de marcas tradicionais e a crescente demanda por veículos eletrificados. Segundo Jorge Antonio Martins, professor da Fundação Getúlio Vargas, a internacionalização é uma estratégia para ampliar margens em um mercado chinês em consolidação, com forte guerra de preços e aumento de tarifas para veículos elétricos importados —que deve chegar a 35% em 2026.
Além da GWM, marcas como BYD, GAC, Omoda e Geely estão investindo no país, trazendo tecnologias avançadas e modelos de luxo. O crescimento das vendas de veículos eletrificados no Brasil mostra uma alta de 44,3% no acumulado do ano, com mais de 134 mil unidades vendidas até julho, refletindo o aumento da concorrência e a aposta na eletrificação.
Perspectivas futuras
Com a inauguração da fábrica de Iracemápolis, a GWM reforça seu compromisso de crescer de forma sustentável e competitiva no Brasil, criando empregos, investindo em inovação e fortalecendo sua presença na América Latina. A expectativa é de que a empresa amplie sua produção, amplie a rede de concessionárias e intensifique a oferta de veículos de tecnologia avançada para atender à demanda crescente por eletrificação e segurança.
O Brasil, considerado o oitavo maior produtor de veículos do mundo, se consolida como um mercado estratégico para as chinesas, que veem no país uma oportunidade de ampliar margens, desenvolver tecnologia local e diversificar sua atuação na região.
Fonte: O Globo