Segundo fontes familiarizadas com as discussões, o governo dos Estados Unidos está considerando utilizar recursos da Lei dos Chips (Chips Act) para adquirir uma participação acionária na Intel. Essa iniciativa faz parte de esforços para revitalizar a fabricante de chips em dificuldades e ampliar a produção doméstica de semicondutores, essenciais para a segurança nacional e a economia do país.
Discussões iniciais sobre participação do governo na Intel
As conversas do governo se concentram na possibilidade de usar o financiamento da Chips Act para, ao menos parcialmente, investir na Intel, embora as negociações ainda estejam em estágio inicial e outras alternativas não tenham sido descartadas. Ainda não está claro se a eventual abordagem envolveria a conversão de subsídios já concedidos à empresa em participação acionária ou a utilização de novos recursos de um fundo mais amplo.
Reação do mercado e impacto nas ações da Intel
As notícias sobre uma possível participação do governo na Intel provocaram aumento expressivo nas ações da companhia, que subiram até 15% nos últimos dois dias, marcando uma das melhores semanas de alta em décadas. A valorização reflete a expectativa de fortalecimento financeiro para a fabricante, que vem cortando gastos e reduzindo seu quadro de funcionários devido às dificuldades recentes.
Recursos já disponíveis e desafios atuais
A Intel já é uma grande beneficiária da Lei dos Chips, tendo recebido US$ 7,9 bilhões em subsídios para fabricação de semicondutores e até US$ 3 bilhões para o programa de Enclave Seguro do Pentágono. Além disso, possui acesso a um fundo de até US$ 11 bilhões em empréstimos previstos na legislação de 2022.
Apesar do apoio financeiro, a empresa enfrenta obstáculos com seu polo fabril em Ohio, cuja construção foi adiada para a década de 2030 devido a dificuldades financeiras. O CEO, Lip-Bu Tan, que esteve com Donald Trump nesta semana, continuará no cargo, mesmo com críticas anteriores do ex-presidente, segundo fontes.
Perspectivas de financiamento e políticas públicas
Analistas avaliam que o projeto de Ohio exige mais do que injeções de capital, sendo necessário atrair clientes externos interessados em fabricar chips na fábrica, o que ainda não ocorreu em quantidade suficiente. Jay Goldberg, da Seaport Research Partners, estima que cerca de US$ 20 bilhões seriam necessários para levar a tecnologia de ponta da Intel ao próximo nível.
O movimento do governo se insere em uma estratégia mais ampla de fortalecer setores considerados essenciais para a segurança nacional e competir com a China, conforme indicam as recentes ações de Washington. A administração Trump busca acelerar o uso dos recursos da Chips Act em áreas críticas, juntando esforços públicos e privados.
Contexto político e influência regional
Ohio tem peso político relevante, sendo um estado vencido por Trump em todas as eleições presidenciais anteriores e palco de disputas acirradas para o control do Senado estadual. As negociações ocorrem pouco após o ex-senador democrata Sherrod Brown anunciar a tentativa de reeleição, enquanto os republicanos reforçam sua presença na região.
Se concretizado, o acordo de participação na Intel representaria um padrão crescente de intervenção do governo na economia, incluindo investimentos em ações, empréstimos e parcerias com o setor privado. Essas ações reforçam o esforço de Washington para estabelecer “campeões nacionais” em setores estratégicos, especialmente em resposta às pressões econômicas da China.
Por ora, as autoridades da Casa Branca, do Departamento de Comércio e da própria Intel não comentaram as negociações, mantendo o caráter preliminar do movimento. A Intel, por sua parte, reafirmou seu compromisso em apoiar os esforços do governo para fortalecer a liderança dos EUA na tecnologia.
Para análise, esses esforços indicam uma mudança na política industrial americana, com maior intervenção estatal para garantir vantagem tecnológica e segurança estratégica, alinhados às tensões globais e à competição com a China.
Fonte: O Globo