O silêncio e o conforto dos ônibus elétricos estão conquistando cada vez mais os passageiros que experimentam esse modo de transporte. Essa mudança traz inúmeras vantagens, como a redução de emissões de gases poluentes, diretamente relacionada à qualidade de vida nas áreas urbanas. Entretanto, a transição para uma frota elétrica ainda é considerada um desafio distante no Brasil, onde apenas 1% dos ônibus urbanos são elétricos.
A realidade dos ônibus urbanos elétricos no Brasil
Atualmente, dos 107 mil ônibus que circulam nas cidades brasileiras, somente 1.133 são elétricos, conforme dados da Associação Nacional de Transportes Urbanos (NTU). Este número demonstra a necessidade urgente de investimento em infraestrutura e planejamento para a substituição da frota. O alto custo de um ônibus elétrico, que pode chegar a R$ 3 milhões, em comparação com um ônibus a diesel, que custa cerca de R$ 1 milhão, é um dos principais fatores que atrasa essa mudança. Luiz Carlos Néspoli, superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), destaca a importância de se planejar a implementação desses veículos para que não se tornem mais um entre os milhares de ônibus a diesel.
Investimentos e infraestrutura necessária
De acordo com Francisco Christovam, diretor-executivo da NTU, a eletrificação da frota de ônibus deve incluir um projeto detalhado sobre a operação dos veículos, incluindo onde eles serão abastecidos e suas autonomias. É vital que as cidades tenham disponibilidade de energia elétrica e um planejamento eficaz para as estações de reabastecimento. Sem essa infraestrutura, a transição para ônibus elétricos torna-se ainda mais desafiadora.
Vantagens dos ônibus elétricos
Os ônibus elétricos têm provado ser mais que uma alternativa moderna. Eles oferecem vantagens claras quando se trata de poluição ambiental. Enquanto um ônibus movido a diesel, no padrão Euro VI, produz cerca de 1,4 quilo de gás carbônico e outros poluentes por quilômetro rodado, os ônibus elétricos operam sem emissões. A professora Flávia Consoni, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica que a redução das emissões tem impactos diretos na saúde pública, uma vez que poluentes como material particulado e óxidos de nitrogênio podem agravar doenças respiratórias e cardíacas.

Segundo informações do Ministério da Saúde, a adoção de soluções como os ônibus elétricos poderia evitar cerca de 285 mil mortes anuais no Brasil se os níveis de poluição estivessem dentro dos parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Desafios enfrentados na eletrificação da frota
Apesar dos benefícios, a implementação dos ônibus elétricos apresenta diversos desafios. Um dos principais envolvem as baterias, cuja produção depende de lítio, um mineral cuja extração causa impactos ambientais significativos. Além disso, o descarte dessas baterias é uma questão que deve ser tratada com cuidado para evitar a contaminação do solo, conforme ressaltado por Consoni.
A importância de uma transição energética sustentável
Consoni enfatiza que a transição energética está intimamente relacionada à mineração sustentável. À medida que a demanda por recursos minerais aumenta, é fundamental desenvolver métodos de extração menos prejudiciais ao meio ambiente. “Precisamos olhar para a questão da sustentabilidade da mineração na transição para energias limpas”, explica ela.
Essas e outras questões foram discutidas no podcast “Uma Lenta Mudança de Rota”, lançado pelo Metrópoles na última sexta-feira (15/08). O programa aborda os desafios e as perspectivas da eletrificação dos ônibus e pode ser conferido na íntegra através do link abaixo.
Fonte: Metrópoles