A Baía de Guanabara, um dos patrimônios naturais do Rio de Janeiro, abriga uma comunidade de catadores de caranguejos que, há gerações, vive da pesca tradicional. No entanto, a situação tornou-se insustentável. O acúmulo de lixo nos manguezais está comprometendo a sobrevivência dessa prática, forçando as famílias a se adaptarem a novas realidades, onde o lixo é priorizado em vez dos caranguejos.
A luta diária dos catadores de caranguejos
Arenildo Vieira Navega, pescador com 52 anos de experiência, compartilha sua frustração: “Estou perdendo a guerra para o lixo. Como não se emocionar vendo o planeta dessa forma?” Ele e sua esposa, Angelita Teófilo, dedicam-se à atividade há mais de 25 anos, tendo aprendido o ofício com as gerações anteriores. Para Arenildo, o sonho de sustentar sua família com a pesca dos caranguejos está se tornando um pesadelo, vendo o mangue repleto de resíduos. “Não era o que eu sonhava, estar dentro do mangue catando lixo, lixo que não sou eu que produzo”, lamenta.
O programa RJ1 destacou a alarmante situação em Guapimirim, onde montanhas de lixo ilegais cobrem os manguezais que deveriam funcionar como filtros ambientais. Os catadores se deparam com objetos inusitados, como garrafas plásticas, móveis e até eletrônicos, em uma área que deveria ser um berçário de vida marinha.
Desafios da poluição no ecossistema
A poluição não atinge apenas os caranguejos. Os ecossistemas dos manguezais são cada vez mais danificados. “É triste ver isso aqui, como caranguejo vai brotar aqui?” questiona Damião Couto, que também faz parte da luta pela preservação do habitat. Ele e sua esposa, Ana Carla, enfrentam a dura realidade de buscar caranguejos em meio ao lixo, lutando para equilibrar a coleta com a necessidade de preservação do ambiente.
Impactos nas comunidades locais
O problema da poluição começa nas ruas da Região Metropolitana do Rio. O lixo descartado inadequadamente é carregado pelas chuvas, rios e canais, até desembocar na Baía de Guanabara. Essa realidade preocupa não só os pescadores, mas também a saúde ecológica da região. Como resultado, muitos acabam se dedicando à coleta de resíduos para complementar a renda, passando longas horas em busca de um espaço limpo e produtivo.
“A pesca do caranguejo está entrando em extinção, tem mais lixo do que caranguejo”, afirma Angelita, destacando a crueldade da situação. O cotidiano dos catadores evoluiu para um ciclo de sobrevivência, onde a atividade pesqueira tradicional é eclipsada pela necessidade de limpar os mangues.
Iniciativas de recuperação ambiental
Felizmente, há iniciativas em andamento. O projeto Águas da Guanabara, desenvolvido pela Federação de Pescadores do Estado do Rio, tem se mostrado uma alternativa. Ele promove a limpeza de manguezais e oferece suporte financeiro aos catadores. Durante três meses, os participantes recebem uma bolsa de R$ 800 para colaborar na coleta de resíduos, com a esperança de reverter um pouco do impacto da poluição, tendo já retirado mais de 1,5 toneladas de lixo em três anos.
A Prefeitura de Magé, em parceria com o governo estadual, também participa deste esforço, contratando pescadores e catadores para limparem os rios e a Baía, visando um futuro mais sustentável para a região. Por sua vez, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) investiu cerca de R$ 16 milhões na implementação de ecobarreiras, que retêm cerca de 1,2 mil toneladas de lixo por mês, contribuindo para o controle da poluição.
Precisamos agir
A situação dos catadores de caranguejos na Baía de Guanabara é um reflexo da necessidade urgente de mudanças nos hábitos de consumo e descarte da população. As iniciativas de recuperação ambiental são passos necessários, mas, para que sejam eficazes, é essencial que a sociedade como um todo se mobilize para reduzir a produção de lixo e proteger os ecossistemas locais. Somente assim, os manguezais poderão novamente ser o que sempre foram: fontes de vida e sustento para as comunidades que deles dependem.
A luta dos catadores é uma luta de todos. Afinal, o futuro das nossas águas e vidas depende das escolhas que fazemos hoje.