Em um evento realizado no Rio de Janeiro, o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, fez declarações contundentes sobre o presidente Donald Trump, afirmando que suas alegações sobre o déficit comercial dos Estados Unidos em relação ao Brasil ofendem “profundamente” os cidadãos americanos. Gore, que venceu o Prêmio Nobel da Paz em 2007 por seu trabalho em defesa do meio ambiente e é fundador de uma ONG dedicada ao combate às mudanças climáticas, ressaltou a importância do Brasil na liderança climática global, especialmente com a realização da COP30 no país.
A crítica a Donald Trump e as crenças da COP30
Enquanto discutia as ações de Trump, que incluem a imposição de tarifas elevadas sobre produtos brasileiros e sanções a autoridades do STF, Gore não poupou críticas. “Acho profundamente ofensivo para muitos cidadãos americanos que Trump tenha mentido descaradamente ao dizer que os EUA têm um grande déficit comercial com o Brasil. Na verdade, temos um grande superávit”, destacou. Ele ainda advertiu sobre as mentiras proferidas pelo presidente americano, como a afirmação de que os moinhos de vento causam câncer e a ideia de que o carvão é uma fonte de energia limpa.
Gore acredita que, apesar das posturas de Trump, o governo brasileiro e o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, estão preparados para garantir a participação dos EUA na conferência, por meio de estados subnacionais e iniciativas privadas. “Nem mesmo a recente ofensiva de Trump contra o Brasil poderá afetar essa presença,” afirmou.
Confiança nas lideranças brasileiras para a COP30
Sobre a COP30, que será realizada em Belém, Al Gore expressou confiança nas autoridades brasileiras. “Eu estarei em Belém. Tenho esperança de que o presidente Lula e os líderes da COP 30 farão as mudanças necessárias para garantir que o mundo seja bem recebido,” afirmou. Ele reconheceu as dificuldades enfrentadas pelo Brasil, incluindo a crise de hospedagem em Belém e os altos preços, mas se mostrou otimista. “Estou confiante de que eles farão o que for preciso para garantir o sucesso da COP 30,” disse.
Conversando com jornalistas, Gore reforçou a relevância do Brasil na luta contra a mudança climática e aludiu às suas interações com Lula, André Corrêa do Lago e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Ele destacou a importância de o Brasil assumir um papel de liderança global nesse cenário, algo que o país vem reivindicando.
Desafios a serem enfrentados
Para Gore, assumir esse papel de liderança climática global é um desafio. “O Brasil reúne o Norte e o Sul, as economias desenvolvidas e emergentes. Ele é amplamente respeitado ao redor do mundo. No entanto, o mundo é uma coleção indisciplinada de nações,” explicou. Ele lembrou que a história de negociações diplomáticas revela a necessidade de consenso, e que, apesar dos desafios, o Brasil possui uma chance melhor de sucesso na condução da conversa sobre mudanças climáticas do que muitos outros países.
Em sua visão, a COP30 deve criar novos paradigmas, especialmente considerando que as últimas conferências foram realizadas sob regimes considerados menos democráticos. “Precisamos de uma transição energética,” enfatizou Gore, citando que mais de 80% da crise climática resulta da queima de combustíveis fósseis.
A urgência das ações climáticas
Al Gore também fez menção ao trabalho de cientistas brasileiros, como Carlos Nobre e Antônio Nobre, que alertaram sobre a possibilidade de um ‘ponto de não retorno’ na Amazônia. Ele ressaltou que a mudança nas políticas é essencial para salvar não apenas a floresta amazônica, mas também outros ecossistemas ao redor do mundo.
“Precisamos ter vontade política suficiente para derrubar o poder hegemônico dos poluidores de combustíveis fósseis,” concluiu. Ele reforçou a urgência das ações necessárias para mitigar as mudanças climáticas e garantir um futuro sustentável para o planeta.
Ao final do evento, ficou claro que a expectativa em torno da COP30 é elevada, e que a participação do Brasil nesse contexto pode ser um passo significativo na luta global contra as mudanças climáticas, uma agenda que Al Gore tem defendido fervorosamente ao longo de sua carreira.