O governo federal adotou uma série de medidas para apoiar o setor exportador diante da crise provocada pelo tarifaço, buscando um equilíbrio entre ajudar os exportadores afetados e manter a responsabilidade fiscal. As ações incluem a reformulação do sistema de financiamento à exportação, aumento de aportes nos fundos de exportação e mudanças no programa Reintegra, com duração prevista até o fim de 2026.
Reforço ao financiamento e inclusão de micro e pequenas empresas
O esforço do governo visa tornar os fundos de exportação mais ágeis e acessíveis, especialmente para micro e pequenas empresas, que atualmente respondem por apenas 1% do acesso ao crédito de exportação no Brasil. “No Brasil, o sistema não colabora”, afirmou Rogério Ceron, secretário do Tesouro.
Segundo ele, a intenção é que o dinheiro chegue a essas empresas, ampliando a participação do setor menor, que em outros países, como Índia, Coreia e Itália, têm participação eficaz de até 40%. A mudança é considerada positiva, caso atinja o objetivo de aumentar a competitividade do inclusive setor menor.
Revisões no Reintegra e no drawback
O Reintegra, programa que recompone tributos removidos na exportação, receberá ajustes com aumento do valor de crédito de 0,1% para até 6%, dependendo do porte da empresa, até dezembro de 2026. O custo dessas vantagens, embora possa ser elevado, oferecerá às empresas um respiro imediato, com diferimento do pagamento de impostos por dois meses.
Além disso, o prazo para uso do crédito referente à importação de insumos será ampliado para um ano, facilitando a gestão de fluxo de caixa dos exportadores.
Opinião de especialistas e impacto macroeconômico
Na avaliação de Bruno Funchal, ex-secretário do Tesouro e atual presidente da Bradesco Asset, as medidas são necessárias, mas é fundamental estabelecer limites temporais para evitar que se tornem permanentes. “O maior desafio é saber quando terminar, para que o benefício não se propague indefinidamente”, afirmou.
Funchal também destacou que, do ponto de vista macroeconômico, o impacto do tarifaço no Brasil é relativamente pequeno, com previsão de uma perda de 0,2% do PIB e redução de US$ 6 bilhões nas exportações. Ele explica que o efeito na inflação tende a diminuir ainda mais, embora o cenário externo, especialmente nos Estados Unidos, apresente sinais de desaceleração econômica devido ao aumento de tarifas.
Contexto internacional e reflexões sobre a política comercial
Bruno Funchal observou que a alta nas tarifas nos EUA, que aumentaram de 2,4% para 17%, representa um retrocesso na história do comércio internacional e leva os Estados Unidos a um isolamento econômico, com custos que o país deverá pagar no futuro.
Sobre as ações do Brasil na arena internacional, o ministro Fernando Haddad criticou a postura dos EUA, considerando a imposição de tarifas uma forma de sanção e apontando que o Brasil, por sua democracia, vem sendo alvo de medidas unilaterais e injustas.
Impacto nas relações diplomáticas e perspectivas
Bruno Funchal reforçou que o Brasil precisa manter uma postura diplomática firme, apresentando propostas de negociação quando necessário, complementando o esforço do governo de oferecer um pacote de apoio às exportações sem comprometer sua soberania. Segundo o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Márcio Elias Rosa, “a soberania nunca esteve sobre a mesa e nunca estará” na busca por acordos comerciais.
O pacote anunciado é visto por analistas como uma resposta urgente à crise econômica, com a necessidade de monitoramento contínuo para evitar efeitos colaterais futuros, especialmente diante do cenário internacional cada vez mais incerto.