No cenário complexo das investigações sobre um suposto esquema de desvio de armas na Bahia, o ex-delegado Nilton Tormes foi ouvido em um inquérito que já se arrasta por mais de um ano. No caso, que está sendo investigado pelo Ministério Público da Bahia e pela Corregedoria da Polícia Civil, Tormes foi exonerado em março de 2025, após suspeitas de sua participação nas irregularidades.
Contexto da investigação
A ação que deu origem a essa investigação ocorreu em 11 de julho de 2024, resultando na apreensão de uma submetralhadora, seis fuzis e mais de mil munições em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. Porém, os depoimentos de vários envolvidos sugerem que a quantidade de armamentos encontrados foi bem superior ao que foi inicialmente reportado. O g1 teve acesso aos detalhes do inquérito e ao depoimento de Tormes, que ilustra o contexto de sua exoneração.
O depoimento de Nilton Tormes
Durante a audiência de aproximadamente uma hora e meia, Tormes relatou seu envolvimento na operação e a sua conexão com os policiais presentes. Segundo ele, o cabo da Polícia Militar, Tibério do Vale Alencar, foi um dos primeiros a contatá-lo com informações sobre o esconderijo de armas, com a ajuda do capitão Roque de Jesus Dórea, que é alvo de outras denúncias graves, incluindo homicídios e extorsões.
Tormes descreve uma reunião em que, apesar de não ter conseguido identificar o esconderijo durante a conversa, decidiu continuar com a operação. Ele destacou que o capitão Dórea era a única pessoa que sabia exatamente onde as armas estavam localizadas. No entanto, não há registros formais da conversa com a fonte de Dórea, o que levanta perguntas sobre a transparência da operação.
Contradições e novas evidências
O ex-delegado afirmou que a operação foi realizada em condições adversas, com chuva e escuridão, e que a ação durou cerca de 40 minutos. Ele insistiu que não viu as armas e que desconhecia quantas foram retiradas do esconderijo. Isso contrasta com relatos de outros agentes que participaram da operação, que alegam ter visto as armas em questão.
Após a ação, não houve registros formais das apreensões, uma vez que ninguém foi preso. O material foi inicialmente enviado ao Departamento de Polícia Metropolitana, seguindo posteriormente para a Secretaria de Segurança Pública para exibição à imprensa, gerando controvérsias sobre o real manejo das armas apreendidas.
Investigação em andamento
Trocas de mensagens entre policiais civis da Bahia indicam um possível alinhamento de depoimentos, aumentando a tensão no caso. O ex-coordenador da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), Douglas Pithon, está entre os que mencionaram a necessidade de um novo depoimento, relacionado a suas primeiras declarações sob supervisão do delegado Adailton Adam.
O inquérito, que também investiga a conexão do caso com a morte de dois homens que foram levados ao esconderijo antes da operação, continua. Apesar de ter sido ouvido, Tormes não é considerado um dos investigados, permanecendo como testemunha dentro da apuração em curso.
Repercussões e desdobramentos
As implicações dessa investigação são abrangentes, pois não envolvem apenas Tormes, mas também outros membros da força policial, levando a denunciações e processos contra capitães e soldados da polícia militar. O Ministério Público formalizou acusações contra figuras como o capitão Dórea, refletindo a gravidade da situação.
A repercussão deste caso não se limita ao campo jurídico, mas também suscita debates mais amplos sobre a ética e a responsabilidade no exercício da função pública, especialmente em um contexto de combate ao crime organizado e à corrupção. A sociedade aguarda ansiosamente por desdobramentos que possam clarificar a situação e levar a responsabilizações adequadas.
Enquanto isso, as autoridades continuam monitorando as investigações e a responsabilização de todos os envolvidos, na expectativa de que a verdade seja revelada e que a confiança nas instituições de segurança pública seja restaurada. As próximas etapas do inquérito devem trazer novos esclarecimentos e, quem sabe, trazer justiça para as vítimas e para a sociedade baiana.