É uma advertência comum que todos ouvimos ao crescer: “Pare de estalar os nós dos dedos, ou suas mãos vão tremer quando você estiver mais velho!” Esta alegação, que se assemelha a um sintoma da doença de Parkinson, tem sido usada para desestimular esse hábito. Mas há alguma verdade nisso?
O que é estalar os nós dos dedos?
Estalar os nós dos dedos, um fenômeno biomecânico conhecido como “cavitação”, é um hábito muito comum. Estudos indicam que até 54% da população se engaja nisso regularmente. O som audível de “estalo” ou “clique” ocorre quando uma articulação é esticada, criando uma queda temporária de pressão dentro da cavidade articular, preenchida com líquido sinovial. Essa redução de pressão leva à formação de bolhas de gás no líquido, e a subsequente explosão dessas bolhas produz o som característico.
Os riscos à saúde associados ao hábito
Apesar de sua popularidade, muitas pessoas estão preocupadas que o estalo habitual dos nós dos dedos possa causar danos articulares a longo prazo, especialmente a osteoartrite— a forma mais prevalente de artrite. A osteoartrite é caracterizada por dor, rigidez e inchaço, frequentemente manifestando-se em pessoas mais velhas. Embora a etiologia exata da osteoartrite permaneça incompreendida, seu desenvolvimento é fortemente influenciado por predisposições genéticas e traumatismos articulares anteriores. Mas estalar os nós dos dedos realmente representa um risco?
Pesquisas até o momento não demonstraram nenhuma correlação entre o estalo habitual dos nós dos dedos e um aumento do risco de artrite. Estudos de imagem comparativa mostraram que não há diferenças estruturais nas articulações de indivíduos que estalam os nós em comparação com aqueles que não o fazem. Um famoso caso envolveu um médico americano que deliberadamente estalou os nós de uma das mãos exclusivamente por mais de 60 anos. Após exame, não foi encontrada evidência de danos articulares na mão que ele utilizou para esse experimento.
O que diz a ciência sobre a saúde das articulações?
O Dr. Shadi Salah, especialista em mãos no Centro Médico Meir, parte dos Serviços de Saúde Clalit, explica: “Estalar os nós dos dedos é um fenômeno extremamente comum, especialmente entre crianças. A maioria das pessoas tende a deixar esse hábito de lado à medida que envelhecem. Existem muitos mitos e lendas urbanas envolvendo esse hábito, que alegam que ele causa danos ou desgastes às articulações. Na realidade, é apenas um processo biomecânico natural.”

Dr. Salah detalha que as articulações dos dedos contêm pequenas cavidades anatômicas cheias de líquido sinovial, um lubrificante natural essencial para a função articular. “Quando estalamos os nós, esticamos a articulação e expandimos a cavidade dentro dela. Isso reduz a pressão no líquido sinovial, causando a formação de bolhas de gás. Quando essas bolhas estouram, o som característico é produzido. Este processo físico é conhecido como cavitação”, acrescenta.
Porém, o médico enfatiza: “Não há evidências científicas de que estalar os nós cause danos às articulações ou artrite. Embora existam estudos que defendam o contrário, a grande maioria da literatura não encontra conexão. Para os médicos, isso continua sendo nada mais que uma lenda urbana.”
Aspectos culturais e comportamentais
Em algumas culturas, estalar os nós dos dedos é visto como algo socialmente inadequado e até considerado trazer má sorte. “Isso também é um fenômeno cultural”, explica Dr. Salah. “De acordo com a literatura, mais de 50% das pessoas se envolvem nesse hábito em algum momento de suas vidas.”
O Dr. Salah também observa que é impossível estalar a mesma articulação duas vezes em rápida sucessão. Após o primeiro estalo, normalmente leva cerca de 30 minutos para o líquido sinovial se reequilibrar e para as bolhas de gás se dissolverem, permitindo que a articulação seja estalada novamente.
O hábito não parece causar diretamente a osteoartrite. Segundo estudos anteriores, a osteoartrite é uma condição sistêmica que afeta todo o corpo, não apenas as mãos. É caracterizada por degeneração crônica da cartilagem nas articulações, progredindo com a idade e influenciada por fatores genéticos, ambientais e traumas repetidos.
Entretanto, alguns estudos têm identificado outros possíveis efeitos colaterais do estalar excessivo dos nós, como inchaço nas articulações, inflamação dos tendões e até mesmo redução da força de aperto. Essas descobertas sugerem que, ao longo do tempo, o estalar frequente dos nós pode contribuir para a fraqueza articular.
Recomendações para a saúde articular
O Dr. Salah destaca a importância de diferenciar entre problemas articulares não relacionados e o hábito de estalar os nós. Se sintomas recorrentes ou sinais de aviso aparecerem, é aconselhável procurar a avaliação de um especialista. É importante adotar um estilo de vida saudável, praticar atividades físicas regulares e manter um peso corporal saudável, pois estas medidas são eficazes na redução da probabilidade de degeneração articular e na garantia da mobilidade a longo prazo.
Por fim, enfatiza: “Estalar os nós dos dedos não causa tremores nas mãos semelhantes aos sintomas de Parkinson.” A verdade é que a saúde das articulações está mais relacionada a fatores modificáveis do que a mitos populares sobre quem estala os dedos.