Obra de R$ 192 mi da BR-343 vai para consórcio liderado pela Construtora Ótima de irmão do senador Marcelo Castro
A Superintendência Regional do DNIT no Piauí homologou a Concorrência Eletrônica nº 90062/2025-18 para duplicação da BR-343 (km 311,20 ao km 332,20), com interseções, vias laterais, OAEs e restauração da pista existente, totalizando 20,76 km. O vencedor é o Consórcio Duplicação BR-343, liderado pela Construtora Ótima Ltda. (CNPJ 45.776.055/0001-26), por R$ 192.344.816,46, no critério de maior desconto, em regime de empreitada por preço global (ato publicado pela SR/DNIT-PI em 11 de agosto de 2025, assinado pelo superintendente José Ribamar Bastos).
Não tem como não associar a Ótimo com a política. Entre seus sócios-administradores está Humberto Costa e Castro, irmão do senador Marcelo Castro (MDB-PI). O parentesco é público e já foi mencionado por veículos nacionais em reportagens recentes sobre contratos da família com o poder público.
O que está em jogo
A obra integra o pacote de intervenções de duplicação e melhoria da BR-343 na região metropolitana de Teresina, corredor que concentra gargalos históricos de mobilidade e segurança. O edital da própria concorrência descreve o trecho e o escopo técnico (duplicação, restauração e novas interseções). Alerta Licitação
Quem é a Construtora Ótima
A empresa é sediada em Teresina (PI), aberta em 2022, e tem como sócios-administradores Alysson Silva Gomes, Humberto Costa e Castro, Marcelo Luiz Masiero Rigo e Rafael Araujo Moura Fe Castro (conforme bases cadastrais empresariais e Portal da Transparência).
Em 2024, a SR/DNIT-PI divulgou nota oficial esclarecendo que um contrato de manutenção com a Ótima estava corretamente orçado em R$ 79,6 milhões (e não R$ 8,9 bilhões, como apareceu por erro em um painel federal). O episódio foi noticiado pela imprensa nacional.
De acordo com informações da Receita Federal, a Construtora Ótima está em atividade há apenas três anos. Ela foi aberta em 24 de março de 2022. Tem um capital social de mais de 50 milhões re reais.
A Ótima foi uma das principais construtoras à frente das obras de asfalto da gestão do Dr. Pessoa.
Não há impedimento legal na contratação
Não há vedação automática para que empresas de familiares de parlamentares participem de licitações federais. A Lei 14.133/2021 prevê impedimentos e gestão de riscos de conflito para agentes públicos que atuam na licitação (ex.: não podem ter parentesco até 3º grau com licitantes), além de regras de integridade, transparência e motivação dos atos. O nepotismo clássico — vedado pela Constituição, pela SV-13 do STF e por diretrizes da CGU — trata de nomeação de parentes para cargos/funções, o que é distinto de contratação via competição pública. Na prática, o foco recai em mitigar influência indevida e comprovar isonomia no processo.
Por que o caso merece atenção
- Montante elevado e obra estruturante: são quase R$ 200 milhões numa rodovia vital para a capital.
- Consórcio e “preço global”: o modelo transfere riscos ao contratado; eventuais reajustes e reequilíbrios precisam ser bem justificados. A lei também prevê responsabilidade solidária entre consorciadas.
- Histórico e reputação: após o ruído de 2024, a SR/DNIT-PI afirmou compromisso com transparência. A vitória agora amplia o holofote sobre governança, compliance e segregação de funções no órgão.
A família do senador Marcelo Castro aparece de forma recorrente em reportagens sobre grandes contratos no Piauí; em uma delas, a imprensa mapeou negócios de empresas ligadas a familiares com recursos federais.
Outros R$ 207 milhões em mais uma obra no Piauí
O foco à época também era Humberto Costa e Castro, irmão do senador Marcelo Castro (MDB-PI) e sócio da Construtora Ótima. A matéria do UOL relatava o contrato que a Ótima obteve de R$ 205,2 milhões para construir a barragem Nova Algodões, em Cocal (PI), com verba do Novo PAC via Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR); o MIDR informou custo de R$ 207 milhões somando recursos do ministério + emenda de bancada.
A licitação foi conduzida pelo Idepi em jun/2024. Quase todos os concorrentes foram inabilitados; a Novatec recorreu, pôde apresentar proposta e ficou em 2º com R$ 206,3 mi (a Ótima ofertou R$ 205,2 mi). Outras três empresas tiveram recursos negados e seus envelopes não foram abertos.
Somadas as duas obras, a Construtura Ótima, só em 2025, garantiu quase meio bilhão de reais de faturamento com recursos federais.
