No coração da Terra Santa, uma comunidade especial e singular ganha destaque dentro da Igreja Católica: o Vicariato de São Tiago para Católicos de Língua Hebraica. Composta por cerca de 14 mil fiéis, esta comunidade vê em sua diversidade cultural uma oportunidade de promover o diálogo e a esperança em tempos de dificuldades.
Um ponto de luz em tempos difíceis
Durante a Audiência Geral realizada na última quarta-feira, 35 representantes da Comunidade de São Tiago estiveram presente, destacando-se como sinais de esperança em meio a um cenário marcado por tensões políticas e conflitos regionais. O vigário patriarcal, Piotr Zelazko, ao conversar com o Vatican News, enfatizou a missão da comunidade: “Voltamos para casa para sermos sinais visíveis de esperança”. Ele explicou que o grupo está em Roma como parte de uma peregrinação jubilar, representando as sete comunidades do Vicariato. “Nossa diária esperança é construir pontes entre os mundos judaico e católico”, afirmou.
O padre Zelazko ainda ressaltou que seus esforços vão além da simples convivência pacífica: “Procuramos estar sempre com quem vive na dor, porque as lágrimas das mães não têm bandeira.” Um sentimento compartilhado pelo Padre Benedetto di Bitonto, líder da comunidade católica em Jerusalém, que revelou que seus fiéis aproveitam esses momentos para vivenciar sua fé ao lado de católicos de todo o mundo.
História e origem do Vicariato
A Comunidade de Língua Hebraica foi oficialmente estabelecida em 1955, em um contexto histórico específico, logo após a criação do Estado de Israel em 1948. Muitos judeus católicos e imigrantes da Europa, especialmente aqueles que sobreviveram ao Holocausto, já residiam no país e enfrentavam desafios para se integrar nas paróquias predominantes, que operavam em árabe ou em outras línguas europeias. A falta de assistência pastoral adaptada à sua realidade levou à criação de um vicariato especial que atendesse as necessidades desses católicos.
Um espaço de diálogo e inclusão
O Vicariato de São Tiago não busca proselitismo entre os judeus, mas sim apoiar os católicos que vivem em um ambiente predominantemente judaico, permitindo que eles expressem sua fé católica em harmonia com o judaísmo. Essa abordagem dialogal é atenta às particularidades culturais de uma sociedade tão diversa e desafiadora.
A liturgia e as atividades pastorais da comunidade são predominantemente realizadas em hebraico, oferecendo um espaço seguro onde católicos de diferentes origens podem se encontrar e praticar sua fé. O Vicariato faz parte do Patriarcado Latino de Jerusalém e possui missões em cidades como Jerusalém, Tel Aviv, Haifa e Berseba, sempre buscando promover o entendimento mútuo e a inclusão.
Uma realidade única
A existência do Vicariato de São Tiago representa uma realidade ímpar no contexto mundial da Igreja Católica. O uso do hebraico como língua litúrgica é parte de um delicado equilíbrio entre pertencer à Igreja universal e estar enraizado na cultura judaico-israelense. Este modelo inclusivo serve como um “laboratório” para o diálogo judaico-cristão, refletindo um novo entendimento que se iniciou, em parte, com as discussões que precederam o Concílio Vaticano II.
Ao longo das décadas, o Vicariato tem sido fundamental para que muitos católicos de origem judaica se mantenham conectados à sua fé, encontrando na comunidade uma rede de apoio e compreensão em um ambiente onde as divisões históricas ainda persistem. A esperança é que, com o tempo, essa convivência harmônica possa não somente enriquecer a vida espiritual dos fiéis, mas também contribuir para a paz e a compreensão entre os povos da região.
Assim, a Comunidade de São Tiago para os Católicos de Língua Hebraica continua a ser uma testemunha viva de fé e amor, mostrando que, mesmo em momentos difíceis, sempre há espaço para a esperança e a construção de pontes entre as diferentes culturas e religiões.
Leia mais sobre o Vicariato de São Tiago no site do Vatican News
