Uma nova pesquisa realizada pelo Ipsos-Ipec revelou que a maioria dos brasileiros (75%) acredita que a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas aos produtos exportados pelo Brasil está motivada por questões políticas, e não comerciais. Esse levantamento, divulgado nesta terça-feira, expõe um cenário de preocupação e divisão nas opiniões da população brasileira diante das relações comerciais entre os dois países.
O contexto da decisão de Trump
A imposição de tarifas, frequentemente chamada de “tarifaço”, tem gerado debates acalorados entre analistas políticos e econômicos, com pesquisadores e cidadãos questionando a verdadeira motivação por traz dessa decisão. Apenas 12% dos entrevistados acreditam que a ação se baseia em questões comerciais, enquanto 5% afirmaram que ambas as questões são relevantes. O estudo revela um alto nível de percepção política, especialmente entre eleitores identificados com as correntes de Lula e aqueles que anularam ou votaram em branco, onde a crença em uma motivação política chega a 79%.
A polarização das opiniões
O levantamento também destaca uma divisão notável nas opiniões dos eleitores de diferentes espectros políticos. Mesmo entre os eleitores de Bolsonaro, 73% parecem crer que a tarificação tem motivação política. A pesquisa foi realizada entre os dias 1º e 5 de agosto, com uma amostra de 2 mil entrevistas em 132 cidades, com margem de erro de 2 pontos percentuais.
Ao questionar se o Brasil deveria retaliar os Estados Unidos com tarifas em produtos americanos, a população mostra uma divisão mais equilibrada. Quase 49% dos brasileiros concordam com a aplicação de “na mesma moeda”, enquanto 43% se opõem. O desejo de retaliar é mais forte entre os eleitores de Lula, onde 61% manifestaram apoio à aplicação de tarifas altas contra os produtos americanos.
A resposta do povo brasileiro
Os dados demonstram uma relação complexa entre a política nacional e as decisões comerciais. Inúmeros grupos opõem-se a qualquer retaliação, incluindo eleitores de Bolsonaro, moradores da área sul do país (52%) e evangélicos (50%). Já entre os jovens de 16 a 24 anos e os eleitores de Lula, há um maior apoio à ideia de medidas retaliatórias. Essa divisão ilustra a polarização que ainda persiste na sociedade brasileira.
Percepção sobre a imagem dos Estados Unidos
A situação se agrava na forma como a população vê os EUA após a imposição das tarifas. Quase 38% afirmaram que a imagem dos Estados Unidos mudou para pior, enquanto apenas 6% acreditaram que melhorou. Para 51%, a percepção permanece a mesma. As diferenças são marcantes entre eleitores de Bolsonaro e de Lula, com uma maioria expressiva de eleitores do PT considerando a imagem estadunidense como mais negativa, revelando um cenário de crescente desconfiança nas relações bilaterais.
Apostar em novos parceiros comerciais
Apesar da tensão, muitos entrevistados sugerem que o Brasil deveria priorizar parcerias com outros mercados, como a China e a União Europeia. Aproximadamente 68% da população apoiaram a ideia, enquanto 47% defendem que o Brasil deve distanciar-se dos Estados Unidos, evidenciando uma divisão nas visões sobre o futuro das relações comerciais brasileiras.
Pontos de vista sobre isolamento internacional
Significantes preocupações também surgem quanto aos impactos que a resistência às tarifas estadunidenses poderá ter na posição do Brasil no cenário internacional. Quase 38% dos entrevistados acreditam que o Brasil pode se tornar mais isolado por conta desse embate, o que mostra que a preocupação com a política externa está cada vez mais crescente.
A pesquisa da Ipsos-Ipec oferece uma visão abrangente da opinião pública brasileira em um momento de intensa mudança nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. As opiniões polarizadas refletem não apenas as divergências políticas internas, mas também a necessidade de um debate amplo sobre o futuro das relações internacionais do Brasil.
O impacto das tarifas e a resposta da população marcam um novo capítulo na diplomacia brasileira, o que pode resultar em desdobramentos significativos na política interna e nas alianças comerciais futuras.