Brasil, 12 de agosto de 2025
BroadCast DO POVO. Serviço de notícias para veículos de comunicação com disponibilzação de conteúdo.
Publicidade
Publicidade

Jovens na China pagam para ‘trabalhar’ em escritórios fictícios

Fenômeno crescente, jovens pagam para fingir emprego em meio a altas taxas de desemprego na China.

Em meio a um cenário econômico desafiador na China, onde a taxa de desemprego juvenil ultrapassa os 14%, uma nova tendência tem surgido: jovens adultos estão pagando para executar o ato de trabalhar em escritórios fictícios. Esses espaços, em que os participantes simulam rotinas de trabalho, têm se espalhado por diversas cidades do país, oferecendo uma solução temporária para aqueles que buscam se sentir parte do mercado de trabalho mesmo sem um emprego formal.

O que é um “escritório fictício”?

Esse fenômeno pode parecer inusitado, mas tem ganhado força como uma resposta à dificuldade crescente de se conseguir um emprego na China. Empresas que oferecem “escritórios fictícios” permitem que os jovens paguem entre 30 e 50 yuan (cerca de R$ 22) por dia para usar uma mesa de trabalho, acessar computadores e até mesmo – em alguns casos – almoçar e lanchar. A ideia é criar um ambiente que simula a experiência de trabalho, proporcionando não apenas um espaço físico, mas também a sensação de pertencimento.

A experiência de Shui Zhou

Um dos usuários desses serviços é Shui Zhou, de 30 anos. Após o fracasso em um empreendimento de alimentação, ele começou a frequentar um escritório fictício na cidade de Dongguan, onde compartilha o espaço com outros jovens em situações semelhantes. “Sinto-me muito feliz aqui. É como se estivéssemos trabalhando juntos”, afirma Zhou, que revela ter enviado fotos do seu ‘trabalho’ para os pais, o que os deixou mais tranquilos em relação à sua situação de desemprego.

Os benefícios de um ambiente simulado

Para muitos, esses ambientes vão além de uma simples simulação. Dr. Christian Yao, especialista em economia da Universidade de Wellington, na Nova Zelândia, explica que esses “escritórios fictícios” têm se tornado comuns devido à transformação econômica da China e à falta de alinhamento entre o mercado de trabalho e as expectativas educacionais. Eles são uma forma de os jovens pensarem em seus próximos passos ou realizarem atividades transitórias.

Shui Zhou, por exemplo, utiliza o espaço para aprimorar suas habilidades em inteligência artificial, cada vez mais requisitadas por recrutadores. “Acredito que isso tornará mais fácil encontrar um emprego”, diz ele. Muitos dos frequentadores compartilham essa visão, utilizando o tempo nos escritórios fictícios para desenvolver projetos, enviar currículos ou encontrar alternativas de trabalho.

Crescente popularidade em diversas cidades

Empresas como a “Pretend To Work”, onde Zhou frequenta, estão proliferando em grandes centros urbanos como Shenzhen, Xangai e Wuhan. Além de oferecer mesas e internet, esses espaços tentam criar um ambiente de trabalho realista. Algumas iniciativas incluem salas de reunião e áreas de descanso. Apesar do tom leve, o dono de uma dessas empresas, que opta por se identificar apenas como Feiyu, menciona que, enquanto os jovens buscam dignidade, muitas vezes se sentem desamparados em uma sociedade competitiva e exigente.

Os riscos do ‘trabalho’ fictício

Dr. Biao Xiang, do Max Planck Institute, adverte sobre a natureza frustrante dessa tendência, onde jovens, sem opções, sentem a necessidade de fingir um emprego. Ele aponta que isso pode criar uma distância da sociedade, oferecendo um espaço onde se sentem menos pressionados e mais livres para explorar novas possibilidades. “É uma forma de encontrar um sentido em meio ao caos do desemprego”, observa.

Embora esses escritórios ofereçam uma solução temporária, Feiyu acredita que a iniciativa também deve levar os participantes à reflexão sobre sua real situação no mercado de trabalho. “A única maneira de essa experiência social cumprir a promessa é ajudar as pessoas a transformar seu ambiente falso em um ponto de partida real”, afirma.

Apesar do cenário desafiador, a tendência dos escritórios fictícios reflete as mudanças econômicas e sociais na China, onde muitos jovens buscam alternativas para enfrentar a pressão do desemprego e, ao mesmo tempo, tentam fortalecer sua rede de contatos e habilidades profissionais. Enquanto a economia do país luta para se reerguer, essas novas dinâmicas podem indicar um caminho inovador frente a adversidades.

PUBLICIDADE

Institucional

Anunciantes