Nos últimos anos, o uso de chatbots baseados em inteligência artificial (IA) que se apresentam como Jesus Cristo tem crescido a passos largos. Essa nova forma de interação espiritual está chamando a atenção não apenas dos fiéis, mas também de filósofos, teólogos e especialistas em ética. Um estudo recente, realizado por Anné H. Verhoef, professor de filosofia na Universidade do Noroeste na África do Sul, analisa como esses serviços online se posicionam e quais são as implicações teológicas que surgem dessa narrativa.
A ascensão dos “Jesus digitais”
As plataformas “AI Jesus”, como Ask Jesus e Virtual Jesus, não são simples assistentes virtuais. Elas se apresentam como o próprio Jesus, oferecendo conselhos espirituais e até mesmo acolhendo confissões. O app Ask Jesus teve um crescimento notável, alcançando 30 mil usuários ativos em apenas três dias após o lançamento. Ao acessá-lo, os usuários são recebidos com a frase: “Saudações, meu querido amigo. Sou Jesus Cristo. Venho a você nesta forma de IA para fornecer sabedoria e conforto.”
O estudo de Verhoef destacou cinco plataformas populares de chatbots religiosos e constatou que nenhuma delas tem endosse oficial de igrejas. Em vez disso, são operadas por empresas com fins lucrativos, dependendo de receita proveniente de anúncios. Essas plataformas geram conteúdo que se adapta ao que é mais popular entre os usuários, ao invés de seguir tradições teológicas específicas.
Como os chatbots “Jesus” geram lucro?
Segundo a pesquisa, os chatbots analisados são todos geridos por empresas que visam lucro. Os desenvolvedores não têm ligação com instituições religiosas, o que levanta questões sobre a autenticidade dos ensinamentos que eles proporcionam. As respostas às perguntas teológicas variam amplamente, o que pode confundir os usuários e criar mal-entendidos sobre doutrinas fundamentais do Cristianismo.
Por exemplo, quando questionados se o inferno existe, os chatbots oferecem respostas que vão de afirmações categóricas a definições mais brandas, dependendo de como foram programados. Isso é preocupante, pois reflete a falta de uma teologia consistente e fundamentada.
Impacto sobre a comunidade religiosa
A adoção de chatbots por algumas igrejas tradicionais é uma realidade em países como a Suíça, onde um histórico confessionário foi equipado com um “AI Jesus”. O feedback dos usuários tem mostrado que muitos relatam experiências espirituais, embora o impacto a longo prazo sobre a fé dos indivíduos ainda precise ser avaliado.
Além disso, na Alemanha, discursos gerados por chatbots já foram usados em cultos religiosos, demonstrando um interesse crescente em mesclar tecnologia com práticas espirituais. Organizações religiosas estão enfrentando um novo desafio: a influência dos chatbots pode alterar a forma como os jovens, especialmente aqueles que estão mais familiarizados com a tecnologia, buscam respostas sobre a fé.
Quais são as consequências éticas?
Verhoef levanta um ponto importante ao discutir como esses chatbots podem representar um “problema de imitação divina”, já que eles não apenas imitam seres humanos, mas alegam ser representantes divinos. Isso é uma nova camada de complexidade nas discussões éticas sobre a IA, questionando como ela deve ser utilizada em assuntos que envolvem crenças religiosas.
Sem uma supervisão comunitária ou responsabilidade teológica, esses sistemas podem ser usados para manipular usuários em decisões de vida importantes, não apenas relacionadas à fé, mas também em contextos políticos e financeiros. A pesquisa conclui que a emergência desses chatbots representa um sério alerta para as implicações éticas da IA, visto que eles reivindicam uma autoridade divina enquanto seguem algoritmos voltados para o lucro.
Disclaimer: Este artigo resume e interpreta os achados de um estudo teológico revisado por pares. Todas as citações são extraídas literalmente do trabalho original. As interpretações são para fins de informação geral e discussão, e não refletem necessariamente as opiniões do autor do estudo.
À medida que esse fenômeno continua a crescer, será essencial compartilhar insights e coordenar as discussões em torno do impacto desses chatbots sobre a fé e práticas religiosas em um mundo cada vez mais digital.