Brasil, 11 de agosto de 2025
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Glória Perez critica a cultura woke e o politicamente correto nas novelas

Autora de grandes sucessos, Glória Perez comenta sobre como o politicamente correto tem impactado a dramaturgia brasileira.

A renomada autora de novelas Glória Perez, conhecida por suas obras de sucesso como O Clone e Salve Jorge, expressou preocupações sobre a influência do politicamente correto e da chamada “cultura woke” no cenário atual da dramaturgia brasileira. Em uma entrevista à Folha de S. Paulo, Glória afirmou que esse fenômeno tem engessado a criação de novas histórias na televisão, tornando-as menos audaciosas e mais restritas.

A crítica à excessiva autocensura

No diálogo, Glória Perez destacou que a premência em evitar ofensas a grupos diversos resultou na omissão de conflitos, que ela considera essenciais para a criação de narrativas envolventes. “Sempre achei que o politicamente correto engessa, reduz e elimina a possibilidade de conflito. Ao fazer isso, ele amordaça e empobrece o autor”, declarou. Esta visão provoca reflexão sobre a quantidade de temas considerados sensíveis que estão sendo evitados por medo de reações negativas do público.

Em uma comparação impactante, Pérez afirmou que o momento atual é, de certa forma, mais preocupante do que a época da ditadura militar, quando a censura era explícita. Para ela, o problema atual reside no que ela descreve como uma “multiplicidade de Solanges” — uma alusão à agente que censurava produções na época da repressão. “Antes, você tinha uma censura. Agora, a censura está espalhada na sociedade. É muito pior”, enfatizou.

Análise do rompimento com a Globo

Glória revelou que sua ruptura com a Rede Globo ocorreu em razão de divergências criativas, especialmente em relação à novela Rosa dos Ventos, que trataria do tema do aborto. Segundo ela, a produção foi adiada, pois havia receio de desagradar certos setores da audiência. “Minha assinatura é lidar com temas delicados e trazer o público para a discussão. Se eu não puder fazer isso, eu acabo”, afirmou, demonstrando seu comprometimento com a liberdade criativa.

A autora, que começou sua carreira na Globo em 1979 como pesquisadora, afirmou que não está disposta a criar tramas engessadas. Embora a emissora tenha tentado mantê-la em seu quadro de autores, ela decidiu recusar a proposta, reafirmando sua necessidade de liberdade para abordar assuntos polêmicos.

A ousadia perdida nas tramas

Glória Perez assinalou que novelas icônicas como O Clone, Salve Jorge e Caminho das Índias seriam inviáveis na atualidade. Segundo a autora, essas produções se destacaram por correr riscos e explorar temas complexos, como tráfico humano e prostituição. “Não imagino que essa ousadia fosse aprovada hoje”, lamentou, refletindo sobre como a criatividade tem sido restringida por normas autoimpostas.

A recepção internacional e o respeito às culturas

Fazendo um contraponto às críticas que a dramaturgia brasileira frequentemente enfrenta em relação à construção de estereótipos, Glória defendeu que suas produções foram bem recebidas nos outros países em que foram exibidas. Essa recepção positiva, segundo ela, é um indício de que a abordagem foi feita de maneira respeitosa e relevante, rompendo com os limites que atualmente parecem sufocar narrativas criativas.

Reflexões sobre a última novela

Sobre sua mais recente obra, Travessia, Glória compartilhou suas impressões sobre as críticas a respeito da escolha de Jade Picon para o papel principal. “Ela deu vida a um momento emocionante e não atrapalhou o enredo”, comentou, enfatizando sua visão positiva do desempenho da atriz. No entanto, foi franca ao expressar sua insatisfação com o resultado final da novela: “’Travessia’ foi um ponto fora da curva. Essa novela foi implodida por dentro. Não deu certo intencionalmente. Mas eu não quero falar sobre isso. Detestei não ver no ar aquilo que eu escrevi”, desabafou.

Com suas declarações, Glória Perez não apenas expõe suas frustrações e visões sobre o atual estado da televisão brasileira, mas também lança um importante questionamento sobre a liberdade de criação e a necessidade de abordar temas polêmicos e relevantes na produção artística. A luta pela ousadia nas artes se torna cada vez mais vital em um ambiente que parece, por muitas vezes, preferir a segurança à inovação.

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