Apesar de esforços declarados para reduzir o impacto ambiental, gigantes americanas de tecnologia têm registrado aumento significativo nas emissões de carbono. Entre 2020 e 2024, as emissões totais dessas empresas aumentaram até 73,8%, impulsionadas pelo crescimento da infraestrutura de dados e da Inteligência Artificial (IA).
Dados alarmantes sobre as emissões de big techs
Segundo levantamento do Laboratório de Políticas Públicas e Internet (Lapin), a Microsoft apresentou um aumento de 23,4% nas suas emissões, enquanto o Google teve uma alta de 73,8%, e a Amazon, de 33,3%, apesar de não chegar ao pico registrado. Estas empresas lideram o mercado global de nuvem, base fundamental para o funcionamento de IA.
Contexto e metodologias
Os dados foram coletados a partir de relatórios de sustentabilidade das próprias companhias, que adotam metodologias distintas, dificultando comparações diretas. Camila Cristina, coordenadora de pesquisa do Lapin, ressalta que os documentos reforçam esforços de mitigação, mas também admitem crescimento contínuo nas emissões.
Motivos do aumento das emissões
As justificativas incluem o avanço de projetos comerciais, especialmente na área de IA, e a implementação de estratégias de compensação, como compra de créditos de carbono e certificados de energia renovável. No entanto, há críticas quanto à transparência dessas ações.
Impactos regionais e desafios ambientais
Por exemplo, a Microsoft indica uma elevação de quase quatro vezes nas emissões de carbono na América Latina, de 16.022 para 60.297 toneladas métricas, entre 2020 e 2024, predominantly relacionadas ao consumo de energia elétrica. Quanto ao consumo hídrico, o aumento foi de 38,39% no mesmo período, atingindo 30,2 milhões de megawatts-hora em energia e 38% de aumento na utilização de água pela Microsoft.
Compensações e controvérsias
Especialistas criticam a falta de transparência quanto ao impacto ambiental real dessas empresas, especialmente no Brasil, onde a prática de compensação por créditos de reflorestamento ou energia renovável muitas vezes é questionada. A própria coordenadora do Lapin afirma que algumas compensações, como créditos no exterior, podem ser uma “contradição” às metas ambientais.
Desafios da sustentabilidade nas operações globais
A Amazon, por exemplo, afirma ter atingido 100% de uso de energia renovável em sua divisão AWS, que lidera o setor mundial de computação em nuvem. A companhia também pretende alcançar a neutralidade no consumo de água até 2030, embora haja críticas pela falta de detalhamento sobre o consumo hídrico de seus data centers.
Já a Google compromete-se a operar exclusivamente com energia de origem limpa até 2030, além de reduzir suas emissões em 50%, mas o consumo hídrico aumentou 117% desde 2020, chegando a 8,1 milhões de galões anuais, majoritariamente ligados aos seus data centers.
Atração de data centers ao Brasil e desafios locais
Empresas brasileiras também têm ampliado sua presença no setor, como a Ascenty, que aumentou suas emissões de gases de efeito estufa em quase 600% entre 2022 e 2024, apesar de afirmar que sua energia é 100% renovável através de certificados. A Elea, com projetos audiovisuais de infraestrutura, e a Scala também relataram crescimentos expressivos nas emissões, com a Scala crescendo quase 2.500% desde 2020.
O levantamento aponta a necessidade de maior transparência e ações concretas de redução, além de regulamentações que considerem as características locais de cada região. Felipe Silva, do Lapin, alerta que a atração de data centers não deve se basear apenas em energia barata, mas em uma política sustentável e responsável.
Enquanto o Brasil busca atrair esse tipo de infraestrutura, o desafio será garantir que a expansão não prejudique os avanços rumo às metas climáticas, reforçando a importância de critérios rigorosos e transparência na gestão ambiental dessas operações.
Fonte: GLOBO