Nos laboratórios da symrise, gigante alemã de fragrâncias e sabores, jovens perfumistas treinam para elaborar aromas que influenciam a rotina de milhões de consumidores em todo o mundo, desde cremes dentais até salgadinhos. Essas experts moldam a conexão sensorial que guia escolhas de alimentos, produtos de limpeza e higiene pessoal.
Treinamento intensivo de ‘narizes’
Ser um ‘nariz’ profissional exige um programa de três anos de formação. Esses especialistas conseguem identificar mais de mil odores mesmo vendados, decompondo fragrâncias complexas em seus componentes químicos. Shangyun Lyu, de 31 anos, chinesa, destaca que, na infância, reconhecia apenas flores como jasmim ou gardênia. Hoje, conhece os ingredientes que formam essas fragrâncias.
Na escola da Symrise, localizada em Holzminden, ao sul de Hanover, os estudantes começam testando aromas com os olhos vendados, usando dezenas de frascos para afinar seu olfato, uma prática comparada a afinar instrumentos musicais, segundo Alicia De Benito Cassado, ex-músico espanhola e atual perfumista. Ela conta que a arte de criar aromas exige força, beleza e acessibilidade para o consumidor final.
A importância do olfato no cotidiano
Essa profissão impacta produtos comuns, como detergentes, shampoos e alimentos, influenciando emoções, memórias e preferências de compra. Marc vom Ende, mestre perfumista de 56 anos e chefe da escola interna, explica que um aroma pode ser composto por centenas de elementos, e a percepção varia de pessoa para pessoa.
Regulamentações e mudanças de gosto
Regras restritivas, como a proibição do Lilial na União Europeia desde 2022, exemplificam os desafios do setor. Ingredientes considerados seguros há anos, agora são substituídos por outros, atendendo às normas de saúde e segurança. Shangyun aponta que padrões de preferências variam globalmente: um shampoo popular na China pode ser considerado ultrapassado na Europa.
O papel da tecnologia e os desafios da profissão
Empresas como a Symrise, que produz cerca de 30 mil itens diferentes, usam também inteligência artificial para prever sucessos no mercado de fragrâncias. Contudo, como ressalta vom Ende, o olfato humano mantém a palavra final, pois máquinas ainda não conseguem cheirar como pessoas, apesar de entenderem textos e falas.
Para atender às demandas globais, os ‘narizes’ também consideram fatores econômicos e ambientais, explorando substâncias, como resinas de madeira, que possuem origem sustentável. O trabalho é complexo e exaustivo, com cerca de 500 profissionais atuando em uma indústria que mantém a magia do cheiro como seu maior diferencial.
Assim, esses especialistas continuam moldando aromas que fazem parte do cotidiano, demonstrando que a arte de farejar vai muito além do senso comum, envolvendo ciência, criatividade e rigor regulatório.
