Uma nova pesquisa revela que 50% dos estudantes de universidades brasileiras evitam debater temas controversos, especialmente aqueles que se identificam como de centro. O estudo, realizado pelo Instituto Sivis em parceria com a Foundation for Individual Rights and Expression (FIRE) e a Future of Free Speech, analisa a postura dos alunos diante da polarização ideológica que permeia o ambiente acadêmico.
A pesquisa e seus dados
A pesquisa foi feita com uma amostra de 1092 alunos de diversas regiões do Brasil e diferentes áreas de conhecimento. Os dados mostram que 47,7% dos entrevistados relataram ter evitado discutir algum tema polêmico no último ano. Esse comportamento é mais prevalente entre aqueles que se consideram de centro, que representam um percentual significativo na pesquisa.
No espectro ideológico, a maioria dos universitários se identifica como progressistas, com 46,9% se posicionando à esquerda. Apenas 26% se declararam de direita, enquanto 16,7% se consideraram do centro. Além disso, 10% preferiram não se identificar politicamente.
Reticência entre os estudantes de centro
Quando se analisam a resistência em se manifestar e a posição ideológica, a pesquisa indica que os estudantes do centro são os que mais se autocensuram. Aproximadamente 57,1% deles afirmaram evitar emitir opiniões sobre certos assuntos, um percentual superior ao dos estudantes de esquerda (43,8%) e direita (39%). Isso leva à conclusão de que, apesar de serem a maioria, os progressistas também hesitam em se pronunciar sobre temas controversos.
A analista de pesquisa do Instituto Sivis, Sara Clem, comentou sobre esses dados: “Podemos gerar algumas hipóteses, apesar das limitações causais. Pode estar relacionado ao ambiente de polarização ideológica e também de polarização afetiva muito exacerbado na sociedade.” Este ambiente polarizado cria uma animosidade que dificulta o debate aberto e respeitoso.
Tópicos sensíveis e o que mais assusta os universitários
Na pesquisa, os alunos foram questionados sobre 14 tópicos diferentes e indicaram seu nível de conforto ou relutância em debater cada um deles. O tema considerado mais delicado foi “Política e eleições”, com 39% dos estudantes confessando hesitação. Logo em seguida, aparece a questão da legalização ou porte de armas, com 37%, e o aborto, com 29,7%.
Em contrapartida, os temas que geram menos resistência incluem a pandemia de Covid-19, que chamou a atenção de apenas 8,8% dos alunos, debates sobre a liberdade de expressão (9,9%) e questões relacionadas diretamente às disciplinas sendo ministradas (10,7%). Além disso, 78,5% dos estudantes se sentem confortáveis em debater temas ligados a identidades, como orientação sexual, ao passo que apenas 20,6% se mostram relutantes.
Polarização e suas implicações
Embora os dados gerais indiquem que a esquerda é mais cautelosa em se pronunciar do que a direita, a situação muda quando se analisa o tópico político. Entre os 39% de estudantes que se sentem desconfortáveis em debater política e eleições, os da posição centrista destacam-se. Aqui, 54,7% dos estudantes do centro relutam em discutir, enquanto entre os de direita, apenas 33,9% sentem-se acuados; na esquerda, essa insegurança é ainda menor, com apenas 27% relutando em participar do debate.
Os resultados da pesquisa levantam questões importantes sobre a dinâmica do debate acadêmico no Brasil. A crença de que as universidades deveriam ser locais de pluralidade de ideias e debates abertos é confrontada pela realidade de um ambiente em que muitos estudantes se sentem inibidos. Assim, fica a reflexão: como promover um espaço mais seguro e acolhedor para a troca de ideias, independentemente da posição ideológica?
O estudo não só destaca a importância de discutir essas temáticas, mas também revela a necessidade de incentivar debates que respeitem as diferentes perspectivas e promovam um ambiente acadêmico mais inclusivo.