A intensa rivalidade entre Grêmio e Internacional, dois dos clubes mais tradicionais do Brasil, é um tema recorrente nas conversas no Rio Grande do Sul. Recentemente, uma pesquisa realizada por O GLOBO em parceria com Ipsos-Ipec trouxe à tona dados relevantes sobre as torcidas dessas duas equipes, revelando não apenas números, mas também a dinâmica social que as envolve.
Pontos de destaque na pesquisa
De acordo com os dados apresentados, o Grêmio está na sexta posição entre os clubes com mais torcedores no Brasil, com cerca de 2,9% da população brasileira se identificando como gremistas. Já o Internacional ocupa a 11ª posição, com 1,6% da população declarando apoio ao clube. O que chama a atenção é a alta identificação local: na região Sul, são raros os torcedores que apoiam outros times fora do Grêmio e do Internacional. Mais de 60% dos torcedores afirmam não torcer por nenhuma outra equipe.
A diferença entre as classes econômicas
Outro ponto explorado pela pesquisa é a diferença entre as classes sociais dos adeptos. O Grêmio possui uma maior quantidade de torcedores na classe A/B, alcançando 5% entre os seus fãs, o que o coloca na quinta posição entre todos os clubes do Brasil em relação a torcedores de classes mais altas. Em contraste, o Internacional é mais popular entre as classes D/E, liderando com 1,1%, enquanto o Grêmio tem 0,9% nessa faixa.
Vinicius Triches, professor da Universidade Federal da Fronteira do Sul (UFFS) e especialista em comportamento de torcedores, aponta que essa diferença está relacionada à história de imigração na região. O Grêmio, fundado em 1903, tem raízes na comunidade alemã de Porto Alegre, enquanto o Internacional surgiu com a influência de italianos, que tradicionalmente pertenciam a classes sociais menos favorecidas. “Isso cria um estigma social onde o Grêmio é visto como o clube dos ricos e o Inter, dos pobres”, explica Triches.
A importância da identidade local
Embora a pesquisa destaque as diferenças de classe, há também um forte sentimento de identidade local que une torcedores de ambos os clubes. Apesar de Grêmio e Internacional não terem representatividade significativa fora do Sul, sendo quase inexistentes no Sudeste e no Nordeste, eles são um símbolo da cultura gaúcha. Historicamente, a região do Rio Grande do Sul se mostra isolada do restante do Brasil, um fenômeno que ajuda a manter vivas as rivalidades e a paixão pelos clubes locais.
Impactos da performance nos campos
A situação no campo de jogo também influencia a torcida. O Grêmio tem se destacado em competições nacionais, tendo conquistado a Copa Libertadores em 2017. O Internacional, por outro lado, não ganha um título expressivo fora da região desde 2011, o que pode estar desmotivando a torcida, especialmente entre os mais jovens. A pesquisa aponta que o público gremista tende a crescer proporcionalmente à idade, enquanto a base de torcedores colorados vem diminuindo, especialmente nas faixas mais jovens.
Triches afirma ainda que a percepção de isolamento da região, em relação a outros centros do país e até mesmo a países vizinhos como Uruguai e Argentina, aumenta o apego à rivalidade. “A impressão que dá é que a região se vê mais próxima das culturas fronteiriças do que da central. A rivalidade entre Grêmio e Internacional é uma forma de expressar essa identidade única do Rio Grande do Sul”, completa.
Considerações finais sobre as torcidas no Brasil
Conforme o estudo revela, enquanto o Grêmio prevalece entre as classes altas, o International se destaca entre os torcedores das classes populares. Contudo, a divisão entre essas torcidas atesta a complexidade da identidade gaúcha, que transcende apenas o futebol e se entrelaça com questões sociais e históricas. A ambas torcidas, a paixão pelo futebol é um potente vetor de identidade que molda a cultura local e a vida no Rio Grande do Sul.
Em resumo, a pesquisa O GLOBO/Ipsos-Ipec não só traça um panorama das preferências esportivas no estado, mas também nos convida a refletir sobre como a futebol se tornou um elemento crucial na formação da identidade regional.
