O Brasil enfrenta um aumento expressivo no déficit na conta de transações correntes, impulsionado pelo crescimento no consumo de serviços de streaming, jogos, música e gastos com inteligência artificial (IA). No primeiro semestre de 2025, o saldo negativo subiu 24%, atingindo US$ 9,94 bilhões, segundo dados do Banco Central.
Impacto do consumo digital nas contas externas
Grande parte desses serviços são contratados de companhias estrangeiras, principalmente das big techs americanas, como Google, Apple, Microsoft, entre outras. Com isso, as remessas para as matrizes dessas empresas aumentaram, dificultando o equilíbrio na balança de pagamentos do Brasil. O fluxo de dólares para pagamento dessas plataformas elevou o déficit na rubrica de propriedade intelectual e telecomunicações.
Gastos com streaming e IA impulsionam o déficit
Dados da PwC apontam que, em 2025, os brasileiros devem pagar US$ 39,4 bilhões (R$ 215,1 bilhões) por assinaturas de serviços digitais, uma alta de 4,6% em relação a 2024. Entre plataformas de streaming, jogos e armazenamento em nuvem, esses gastos reforçam a dependência de recursos estrangeiros e contribuem para a deterioração da balança comercial
Dependência de tecnologia importada
Especialistas afirmam que o Brasil mantém forte dependência de tecnologia proveniente do exterior, especialmente em IA e infraestrutura de nuvem. Segundo Ricardo Queiroz, sócio da PwC, o crescimento das despesas com nuvem e IA acarreta uma maior saída de dólares, refletida nos déficits cada vez maiores nas contas de telecomunicações.
Consequências para o câmbio e o cenário econômico
O aumento no déficit externo gera preocupações sobre a estabilidade do real. Ana Paula Vescovi, ex-secretária do Tesouro Nacional, destaca que o saldo em conta corrente passou de 1,1% do PIB em maio para 3,4% em junho, o que aponta uma fragilidade maior na relação entre entrada e saída de dólares. Autoridades e analistas alertam que, sem contrapeso em investimentos de longo prazo, o risco de desvalorização do real aumenta, podendo gerar maior volatilidade cambial.
Investimentos tecnológicos no Brasil
Apesar do aumento nas importações, empresas brasileiras continuam investindo em tecnologia. A expectativa da Associação Brasileira das Empresas de Software é de um gasto de US$ 62,9 bilhões em 2025, aumento de 7,3%. Grandes corporações, como Gerdau e bancos, ampliam o uso de IA, análise de dados e computação em nuvem, consumindo recursos do exterior para sua transformação digital.
Cenário internacional e perspectivas futuras
Segundo o relatório da Capital Economics, a possibilidade de o déficit em conta corrente atingir 4% do PIB preocupa o mercado. Sem fluxos de investimento de equilíbrio, o país fica mais vulnerável a crises cambiais e instabilidades econômicas. Felipe Kotinda, do Santander, alerta que esse fluxo estrutural veio para ficar e deve persistir pelos próximos anos, refletindo o avanço da digitalização e do consumo de conteúdo online no Brasil.
Com um consumo cada vez maior de serviços digitais suportado por infraestrutura de telecomunicações em evolução, o Brasil se torna um mercado relevante para as empresas de tecnologia internacionais, mesmo diante dos desafios de balanço e câmbio.
Para mais detalhes, acesse o matéria completa no Globo.