O Haiti, país mergulhado em crises políticas e sociais, vive um dos seus períodos mais sombrios. Com mais de 5.000 civis brutalmente assassinados em 2025, e 184 mortos apenas na última semana, segundo as Nações Unidas, a situação em Porto Príncipe é desesperadora. O cenário foi descrito como um “inferno” pela imprensa internacional. As ruas da capital, dominadas por gangs, são palco de crimes atrozes, incluindo sequestros e execuções.
A escalada da violência em Porto Príncipe
As gangues controlam mais de 90% da capital haitiana, criando um ambiente onde a vida de civis é utilizada como moeda de terror. Gena Heraty, missionária leiga irlandesa, relatou um caso chocante onde uma criança deficiente de três anos e outras sete pessoas foram sequestradas em um orfanato, evidenciando como inocentes são alvos dessa brutalidade. Com uma população de 11 milhões, cerca de 1,3 milhão de haitianos se encontram em situação de desabrigo, vivendo em acampamentos improvisados com o acesso a alimentos cada vez mais limitado.
Desintegração do Estado e a resposta da Igreja
Dom Thomas Wenski, arcebispo de Miami e defensor da comunidade haitiana nos EUA, afirmou que a Igreja permanece comprometida em apoiar o povo haitiano, especialmente em áreas fora da capital. Entretanto, as tentativas de ajuda humanitária são frequentemente bloqueadas pelo controle das gangues sobre aeroportos e portos, dificultando a chegada de mantimentos e assistência. A situação só piora com a ineficácia das autoridades do país, que lutam para restabelecer a segurança.
Um histórico de conflitos e tragédias
Mons. Juan Antonio Cruz Serrano, representante da Santa Sé na Organização dos Estados Americanos, enfatizou que a segurança deve ser a prioridade máxima, já que sem ela os direitos humanos e o desenvolvimento são impossíveis. O Haiti, que uma vez foi uma das colônias mais ricas da França, enfrenta efeitos devastadores de uma história marcada por exploração, opressão e intervencionismo militar.
Do colonialismo ao caos contemporâneo
A luta por liberdade que levou à independência do Haiti, em 1804, foi seguida por penalidades drásticas impostas pela antiga colônia francesa, que exigiu enormes reparações. Após anos de estabilidade ilusória com intervenção americana, o país viu a ascensão de líderes como Jean-Baptiste Aristide, que, mesmo eleito democraticamente, enfrentou tentativas de golpe e exílio.
Aristide e a complexidade do poder no Haiti
Aristide, um ex-padre que se tornou presidente, representa a luta do povo haitiano por um governo que realmente o represente. Seu governo teve uma importância significativa na luta pela justiça social, mas também foi marcado por conflitos com potências externas. Sua expulsão em 2004, orquestrada por interesses ocidentais, expôs uma contínua manipulação política que tem contribuído para a crise atual e a precariedade da liderança no país.
A atual situação no Haiti é um reflexo de um legado de exploração e negligência internacional. Os haitianos enfrentam um dia a dia de incertezas, com as escolas fechadas e uma população infantil cada vez mais vulnerável à violência e ao recrutamento forçado por gangues.
O futuro incerto do Haiti
O futuro do Haiti parece sombrio, e as narrativas históricas servem de alerta sobre as consequências do descaso e da exploração. A população clama por ajuda, segurança e a restauração de direitos humanos básicos. À medida que a crise humanitária se agrava, a comunidade internacional é confrontada com a responsabilidade de agir para mudar o curso da história haitiana e restaurar a dignidade de seu povo.
Enquanto isso, líderes como Dom Wenski e Mons. Juan Antonio continuam a defender a necessidade de um suporte contínuo e significativo para a população, tanto no campo da segurança quanto no auxílio humanitário. O Haiti, outrora símbolo de resistência, agora enfrenta o desafio de reconstruir seu futuro em meio a um caos sem precedentes.
O Haiti precisa de suporte, compreensão e, acima de tudo, uma ação urgente da comunidade global para superar essa crise devastadora.
Por Victor Gaetan, correspondente do National Catholic Register.