A guerra judicial entre John Textor e seus sócios, que começou nas últimas semanas, é parte de um processo maior que vai definir o futuro do Botafogo nos próximos meses. Os dois lados tentam usar decisões da Justiça para fortalecer suas posições na negociação que decidirá quem ficará com o controle da SAF alvinegra.
A crise financeira do Botafogo
No centro dessa disputa judicial estão as preocupações financeiras que cercam o Botafogo. Recentes balanços financeiros revelaram que, mesmo com um caixa robusto, o clube terminou 2024 com um capital de giro negativo de R$ 582 milhões. Além disso, em meio a uma crise com o Lyon e a Eagle, o Botafogo divulgou um balanço alarmante: um faturamento recorde de R$ 700 milhões, mas um prejuízo de R$ 300 milhões. A situação delicada do clube contribui para as tensões entre Textor e seus sócios.
A movimentação de John Textor
Enquanto se mantém no comando do clube graças a uma decisão judicial, Textor ganha tempo para buscar um investidor capaz de financiar a recompra da SAF — já que não dispõe de recursos próprios para a operação. Do outro lado, seus sócios querem reaver o investimento de 450 milhões de euros feito para que o norte-americano comprasse o Lyon, em 2022. Após conseguirem afastá-lo do controle da Eagle Football Holding, dona de 90% da SAF, agora buscam tirá-lo também do Botafogo, estabilizar as finanças e, possivelmente, preparar a equipe para uma futura venda.
O primeiro movimento no tabuleiro foi de Textor. Em 17 de julho, logo após ser avisado por Christopher Mallon, advogado britânico nomeado diretor independente da Eagle, de que a holding pretendia retirá-lo da administração do clube, ele convocou duas reuniões: a do Conselho de Administração e uma Assembleia Geral Extraordinária da SAF. Na primeira, Textor e aliados aprovaram um empréstimo de 100 milhões de euros com uma nova empresa aberta por ele nas Ilhas Cayman, garantindo quase todas as receitas futuras da SAF.
A estratégia da Eagle
A Eagle, por sua vez, foi rápida em responder às movimentações de Textor. A holding contestou as decisões tomadas nas reuniões, alegando que Textor havia “traído” a confiança da empresa ao participar delas mesmo já afastado do controle. Em 30 de julho, a defesa da Eagle entrou com uma ação para anular essas deliberações, barrar a emissão de novas ações e impedir contratações pela SAF de empresas ligadas ao empresário.
Para ambos os lados, a disputa legal é crucial. Enquanto Textor busca assegurar uma posição forte dentro do Botafogo, a Eagle quer limitar seu controle e poder de negociação. De acordo com os advogados da holding, as dívidas cobradas pela SAF são questionáveis, uma vez que, no modelo de “caixa único” implantado por Textor, a movimentação de recursos entre os clubes da rede era comum e autorizado pelo próprio empresário. Para os representantes da Eagle, uma auditoria contábil se faz necessária para esclarecer a situação.
Perspectivas futuras
Textor quer resolver a situação rapidamente, apresentando uma proposta para recomprar a SAF nos próximos meses. A Eagle, no entanto, está adotando uma abordagem a longo prazo. Seus advogados pretendem solicitar que o conflito seja encaminhado para a Câmara de Conciliação e Arbitragem da Fundação Getulio Vargas (FGV), o que poderia atrasar a resolução do impasse por pelo menos um ano.
Em meio a esse embrolho, a Eagle também planeja intensificar o diálogo com os sócios do Botafogo. Embora a maioria dos sócios apoie Textor, acreditando que ele é fundamental para o sucesso recente da equipe, a holding está confiante de que pode convencê-los sobre a necessidade de sua saída para o bem do futuro financeiro do clube.
À medida que a guerra judicial entre Textor e seus sócios se intensifica, o futuro do Botafogo parece incerto. A tensão e as negociações continuarão, e o desfecho dessa disputa será decisivo para determinar o controle e a direção do clube nos próximos meses.