O Botafogo, por meio da sua Sociedade Anônima do Futebol (SAF), divulgou na noite da última sexta-feira, um balanço financeiro referente ao ano de 2024, já em agosto de 2025, o que representa um atraso de mais de três meses em relação ao prazo legal. Este documento chega em um momento conturbado para o clube, imerso em um imbróglio societário que envolve o atual acionista John Textor e a Eagle Football Holdings. Entre os dados mais alarmantes do balanço, destaca-se o capital circulante líquido (CCL) do clube, que apresentou um resultado negativo de R$ 582,2 milhões, mesmo com um caixa sólido de R$ 129 milhões ao final de 2024.
Os números que preocupam
O capital de giro negativo indica que, ao somar as dívidas e obrigações de curto prazo, o Botafogo tinha mais a pagar do que a receber ou dispor imediatamente. Assim, a “conta de curto prazo” do clube está no vermelho, apesar da liquidez à disposição, uma situação que requer um planejamento cuidadoso para evitar um aperto de caixa. Essa desigualdade no balanço pode ter gerado pressão financeira ao longo de 2025, embora o relatório não apresente consultas financeiras atualizadas do ano corrente.
Um ponto crucial destacado no relatório é que, em 2024, o Botafogo alocou R$ 160 milhões do seu caixa para abater parte de sua dívida histórica. Outros R$ 30 milhões estavam provisionados para pagamento no início de 2025. De acordo com o contrato original da SAF, esses pagamentos deveriam ser de responsabilidade do acionista majoritário, a Eagle, o que se não tivesse sido feito, poderia ter garantido um saldo positivo no capital de giro do clube.
A estratégia de saneamento financeiro
O movimento de saneamento implementado pelo Botafogo tem gerado resultados significativos desde 2022, com a dívida histórica do clube reduzida em R$ 474 milhões, resultado de descontos obtidos com os credores e de amortizações feitas ao longo dos anos. Além dos R$ 160 milhões já pagos, o clube também homologou um plano de recuperação extrajudicial que inclui acordos trabalhistas que podem ser parcelados em até 10 anos. Somente em 2024, foram quitados R$ 27,7 milhões em débitos fiscais, um esforço que demonstra a seriedade do clube em resolver suas pendências financeiras.
Transações internas e desafios futuros
O balanço também revela que há R$ 558,7 milhões a receber da Eagle, relacionados a transações internas, e menciona operações com o Lyon, outro clube da mesma holding, que envolve transferências de atletas e repasses necessários para a integração de processos esportivos. Estes são pontos sensíveis no atual clima de disputa societária, adicionando uma camada de complexidade nas finanças do Botafogo.
Apesar do desequilíbrio no capital de giro, o Botafogo comemorou um faturamento recorde de R$ 700 milhões em 2024, e uma redução da dívida bruta, que caiu de R$ 377,6 milhões para R$ 48,1 milhões. Entretanto, o principal desafio do clube agora é não apenas manter esse patamar de receitas, mas também encontrar maneiras de recuperar a liquidez e continuar o processo de saneamento financeiro, enquanto lida com as consequências da atual batalha judicial e societária, que pode impactar negativamente tanto sua estabilidade esportiva quanto financeira.
O futuro do Botafogo dependerá muito da eficácia de sua gestão financeira e da habilidade de seu dirigente em navegar por este mar turbulento de desafios econômicos e administrativos. A expectativa é que, com planejamento e organização, o clube possa superar essas dificuldades e seguir em frente de forma sólida.