No último dia 8 de agosto, um acidente trágico com parapente no Parque da Cidade, em Niterói, resultou na morte de duas pessoas: um piloto e sua passageira. O evento alarmante suscitou denúncias sobre a presença de pilotos não habilitados e a falta de fiscalização adequada na área, temas que têm preocupados os praticantes de voo livre e moradores da região há anos.
Denúncias sobre irregularidades
Um instrutor de voo livre, que preferiu permanecer anônimo devido a receios de retaliação, relatou à imprensa a situação crítica que se instaurou no Parque da Cidade. “É uma milícia formada por esse bando de pilotos que não têm habilitação e não querem se habilitar”, afirmou o instrutor, que há anos vem alertando sobre as práticas inseguras e as ameaças sofridas por aqueles que tentam regulamentar a atividade de voo. Segundo ele, o acidente que levou à morte do piloto e da passageira não foi causado por condições climáticas, mas por graves falhas de segurança.
Causa do acidente
De acordo com as informações fornecidas pelo instrutor, a tragédia ocorreu devido ao rompimento do mosquetão de segurança de um dos lados da passageira, o que levou a uma curva brusca do parapente. “O piloto fez o comando para o lado esquerdo, e isso resultou em uma colisão com a pedra sob a rampa em alta velocidade”, explicou. A descrição do evento evidencia a gravidade das falhas nos procedimentos de segurança, ressaltando que a situação poderia ter sido evitada com uma maior supervisão das atividades no local.
Ações da Prefeitura
A Prefeitura de Niterói, após o acidente, determinou a suspensão imediata das atividades nas rampas de voo do Parque da Cidade. A Secretaria de Ordem Pública (Seop), junto com a Guarda Municipal Ambiental, prestou apoio aos Bombeiros e instalou placas alertando a população sobre a importância de contratar pilotos credenciados para esse tipo de atividade. A secretária de Meio Ambiente da cidade também apontou que, desde o início do ano, foram solicitados esforços adicionais para reforçar a fiscalização, uma tarefa que, segundo informações do governo, é de responsabilidade da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).
Falta de fiscalização e regulamentação
O parapente é considerado uma modalidade de esporte radical e tem alta dependência das condições climáticas e geográficas, segundo a ANAC. No entanto, a agência não exige a habilitação para a prática de esportes radicais, embora recomende que os interessados se filiem a associações reconhecidas. Apesar das recomendações, a falta de clareza quanto à fiscalização de voos comerciais e a interação entre os órgãos de segurança pública e a ANAC geram um vácuo regulatório que pode colocar em risco a vida dos praticantes.
Responsabilidades compartilhadas
A ANAC deixou claro que a exploração comercial de voos sem a devida autorização é ilegal, e que, embora a instrução remunerada de voo livre seja permitida, essa prática não é regulamentada pela agência. A falta de regulamentação para voos duplos, aqueles em que os pilotos capacitados levam passageiros em voos recreativos, aumenta o risco, visto que o registro de equipamentos adequados e a certificação dos pilotos não são garantidos.
A Polícia Militar também foi acionada para esclarecer a falta de fiscalização, mas não houve, até o momento da redação deste artigo, um retorno sobre as providências que poderiam estar sendo tomadas para abordar estas preocupações.
Implicações e o que vem a seguir
Como resultado dos eventos trágicos no Parque da Cidade, especialistas e praticantes do voo livre enfatizam a urgência da criação de diretrizes claras e eficazes para a fiscalização da prática. A situação atual não é apenas uma questão de regulamentação, mas de responsabilidade coletiva para garantir a segurança de todos os envolvidos. A falta de ações efetivas pode levar a mais uma tragédia, refletindo a necessidade de uma resposta coordenada entre os órgãos públicos, a ANAC e a comunidade de praticantes.
O futuro dos voos de parapente em Niterói depende agora de ações decisivas e da conscientização sobre a importância da segurança nas práticas esportivas.