A Malásia, uma das maiores fabricantes de painéis solares do mundo, está reavaliando sua estratégia econômica diante da turbulência provocada pelo tarifão de Donald Trump. As novas tarifas, que variam de 19% a 40% sobre produtos provenientes da China, originaram uma crise no setor solar do país, que tinha como destino principal os Estados Unidos. A crise toca em aspectos estratégicos, econômicos e políticos, levando a Malásia a buscar caminhos para fortalecer sua independência tecnológica e econômica.
Impactos e reações na Malásia
Nos últimos anos, a Malásia investiu aproximadamente US$ 15 bilhões em fábricas de painéis solares, principalmente chinesas, criando dezenas de milhares de empregos. No entanto, com a imposição de tarifas pelo governo Biden, as empresas locais e estrangeiras estão repensando suas operações. A maior fabricante de painéis solares do país, a Malaysian Solar Resources, encerrou grande parte de suas atividades em 2013, mas mantém a esperança de retomar a fabricação, especialmente com a redução dos subsídios chineses.
Segundo Lisa Ong, diretora-executiva da Malaysian Solar Resources, diversos fatores estão em jogo. “Sabíamos que não poderíamos competir com as companhias chinesas em longo prazo”, afirmou. Ela destacou ainda que a maior parte dos painéis utilizados no país é importada da China, uma dependência que o governo deseja diminuir ao longo do tempo, buscando impulsionar a produção local e a autossuficiência em energias renováveis.
Estratégias para enfrentar o cenário
A administração malaia aposta na transformação de sua matriz energética, visando que até 2030, metade do consumo de energia venha de fontes limpas, como a solar. Para isso, o governo está negociando acordos comerciais e buscando reduzir a dependência das importações chinesas, que atualmente respondem por mais de 75% dos painéis solares usados localmente.
Autoridades malaias também tentam equilibrar a relação com as duas grandes potências mundiais. Disseram que estão abertas a colaborar com o governo Trump para evitar a venda de produtos chineses como se fossem de origem local. “Queremos nos posicionar não só como receptores de investimentos, mas também como criadores de tecnologia e inovação”, afirmou Liew Chin Tong, vice-ministro de Investimento, Comércio e Indústria.
Dilemas e desafios futuros
A principal dificuldade da Malásia é manter uma indústria solar competitiva em um cenário de fortes tarifas e de uma guerra comercial entre EUA e China. Apesar do impacto negativo, as restrições também servem como um alerta para o país repensar seu papel na cadeia global de abastecimento e seu modelo de crescimento econômico.
O país, que concentra mais de 35 milhões de habitantes, busca impulsionar uma economia mais diversificada, com maior peso na inovação, tecnologia e produção doméstica. Ainda assim, a dependência da China para componentes e materiais representa um desafio que só será superado com estratégia, investimentos e políticas públicas de longo prazo.
Para especialistas, a experiência da Malásia reforça a importância de se preparar para um cenário de maior rivalidade entre as potências, ao mesmo tempo em que se busca uma economia mais autônoma e sustentável. A questão central é como equilibrar as influências externas enquanto se constrói um futuro mais resiliente.
Para conferir a análise completa, acesse o arquivo do Globo.