Com o aumento do uso de ferramentas de inteligência artificial (IA) na elaboração de currículos e cartas de apresentação, surgem questionamentos sobre a autenticidade dos textos. Entre os indicadores que podem revelar a origem automatizada estão o uso frequente de travessões, pontuação comum em textos formais, mas pouco utilizado na escrita cotidiana e que virou marca de conteúdos produzidos por máquinas.
Sinais de textos produzidos por IA no mercado de trabalho
Especialistas apontam que documentos gerados por IA tendem a ter uma linguagem estruturada, polida demais e com pouca personalização, o que pode levantar suspeitas durante processos seletivos. Segundo Bruno Barreto, da consultoria de recrutamento Robert Half no Rio, esses textos apresentam um estilo “certinho” e uniforme, diferentemente de escritos humanos, que costumam refletir mais a personalidade do candidato.
Impacto na seleção de talentos
O uso de IA para adaptar currículos também tem seu lado negativo. Para Barreto, a prática de inserir palavras-chave de forma repetitiva e artificial, para “driblar” sistemas automatizados de triagem, enfraquece a autenticidade do documento. “A IA tende a produzir conteúdos que, embora personalizados na aparência, carecem de nuances culturais e de linguagem”, explica.
O papel do travessão na escrita automatizada
Segundo Adriano Carezzato, professor da Fundação Vanzolini, os modelos de IA são treinados com textos que costumam usar o travessão com frequência — principalmente por serem escritos em fontes formais, como livros e artigos. “Eles aprendem a usar essa pontuação, mesmo que ela seja pouco comum no português do Brasil, por exemplo”, afirma.
Limitações dos modelos de IA na compreensão do contexto
Fabro Steibel, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio), reforça que esses sistemas operam com reconhecimento de padrões, sem compreensão real de gramática ou sintaxe. “O ChatGPT, por exemplo, não foi à escola; ele repete o que foi treinado, sem saber o significado do que escreve”, avalia. Assim, o uso excessivo do travessão pode parecer uma consequência dessa limitação.
Perigos e cuidados na utilização de IA na escrita profissional
Para a professora Dalva Corrêa, responsável por um curso de “escrita autêntica” para profissionais, a preocupação com a presença de IA nos textos deve ir além da tecnologia. “Precisamos investir em habilidades reais de leitura e escrita, pois somente 10% da população entre 15 e 64 anos tem proficiência plena em leitura, escrita e matemática”, alerta.
Ela defende que o uso do travessão, bem adaptado ao vocabulário, continua relevante na comunicação, e que profissionais não devem abandonar esse recurso por medo de serem confundidos com a IA. “Se sempre usou, por que parar agora?”, questiona.
Futuro da escrita e o papel do recrutamento
Com a automatização crescente, o momento das entrevistas se torna a etapa decisiva para validar as habilidades dos candidatos, explica Barreto. “Na conversa, conseguimos verificar se o que o candidato disse realmente condiz com sua experiência, desmentindo possíveis versões robotizadas”, afirma.
O debate sobre a autenticidade dos textos criados com IA segue aquecido, sobretudo quanto à ética na contratação e na produção de conteúdo. Segundo especialistas, a questão não é apenas o uso da tecnologia, mas a necessidade de desenvolver uma escrita mais genuína e consciente.
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